segunda-feira, agosto 25, 2014

O Ensino sob a Perspectiva Cristã

O Ensino sob a Perspectiva Cristã
Joel Beeke


Neste capítulo, gostaríamos de examinar três questões principais:
1)     Como CONCEITUAR a criança?
2)     Como ENSINAR a criança?
3)     Como DISCIPLINAR a criança?
Ao examinarmos o primeiro tema, como conceituar a criança, precisamos focalizar quatro princípios bíblicos básicos. Precisamos considerar nossas crianças como:
1)     Especialmente criadas e estimadas por Deus
2)     Especialmente formadas à imagem de Deus
3)     Pecadoras caídas (pelos méritos do homem)
4)     Pecadoras regeneráveis (pelos méritos de Cristo)
Primeiro, considerando nossas crianças como especialmente criadas e estimadas por Deus.  
Em Gênesis 1 e 2 a especialidade da criação do homem está indicada em diversas maneiras. Somente no caso do homem nós lemos que:
1)                A criação do homem procede de um conselho especial do Deus Triúno.
Antes de criar o homem, Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo tomaram juntos conselho especial. “Também disse Deus: façamos o homem” (Gn. 1: 26a).
2)                A criação do homem se realizou através de um ato especial e pessoal de Deus.
Na criação das plantas nós lemos: “E disse Deus, produza a terra erva” (Gn. 1:11a). Na criação do homem, entretanto, a Escritura usa a linguagem mais pessoal, direta e imediata possível: “Também disse Deus: façamos o homem” (Gn. 1:26a).
3)                O ser humano foi criado à imagem de Deus
4)                O ser humano foi criado com uma alma (único)
5)                O ser humano foi estabelecido para dominar a criação terrena
Ao ensinar e interagir com a criança, reconhecemos a importância e a grande responsabilidade de estarmos lidando com criaturas especiais de Deus?
Quando estudamos a importância e a especialidade de cada criança biblicamente, devemos nos concentrar também sobre o tema complementar da humildade. A fim de que não nos tornemos orgulhosos de nossa criação e posição especiais, para cultivar humildade, Deus nos formou do pó da terra. Portanto, encontramos na nossa criação tanto o mais, quanto o menos elevado dos elementos. Não podemos imaginar nada mais sublime do que ser formado pelo sopro do próprio Deus. Entretanto, também não podemos pensar em uma substância menos digna do que o pó da terra para se formar algo.
Somos proibidos a exaltar as virtudes e os feitos humanos como se pertencessem a nós – como se fossem de origem humana. O espírito soberbo de Nabucodonosor, “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei?” (Dn. 4: 30a), deve ser evitado em nossas classes. O erro oposto, entretanto, também deve ser evitado. Nunca devemos desprezar os talentos dados por Deus. Devemos reconhecer e valorizar as habilidades individuais de nossos alunos. Cada dom pessoal é dado por Deus. Podemos promover erroneamente, por comissão ou omissão em nosso ensino, o enterro dos talentos preciosos de nossos alunos. Estamos enfatizando, encorajando e reconhecendo o desenvolvimento das habilidades de nossos estudantes como dons dados por Deus? Aqueles com um, dois ou cinco talentos são encorajados a duplicá-los? Estamos enfatizando que a razão suprema das habilidades dadas por Deus é dedicá-las ao seu doador, usá-las para a honra de Deus e o benefício do próximo?
Imagine uma professora da 2ª série voltando de um passeio escolar ao Correio local, no qual muitos alunos não se comportaram bem. Na sua frustração com um grupo que desconsiderou o funcionário do Correio encarregado pela visita, não o ouvindo educadamente, ela pune a classe inteira. Acusa-os de serem barulhentos, rudes e sem consideração; sarcasticamente os compara a uma manada de elefantes.
Esta atmosfera de degradação pública da classe está sustentada pela visão bíblica da singularidade e valor de cada ser humano? O ensino dos ideais e das perspectivas bíblicas na aula de Educação Religiosa é importante, mas quando estas crianças retornaram do seu passeio, elas lidaram com a realidade prática. Como nos aproximamos e interagimos com nossos semelhantes?
O homem é conclamado a amar e servir a Deus acima de todas as coisas, mas esta relação vertical não é tudo. Ela deve ser balanceada, no ensino e na prática, com apropriadas relações horizontais.
Embora não estejamos promovendo abertamente o humanismo secular em nenhuma de nossas escolas cristãs, ainda precisamos vigiar contra suas invasões mais sutis. Muitos de nós, como professores, fomos ensinados em universidades públicas que esposam esta religião humanista secular. Quando aconselhando um aluno, por exemplo, podemos achar muito natural abordar o assunto da seguinte maneira: - Bem, o que você acha? Como você se sente sobre isto? Isto é importante para você? Quais são suas reações quanto a isto? O que você acha melhor?
Ao considerarmos a questão, como conceituar a criança, um segundo tema bíblico importante a considerar é sua criação à imagem de Deus.
Vamos continuar a questão, compreendendo nossas crianças como:
1)                Pecadoras caídas (através dos méritos do homem)
2)                Pecadoras regeneráveis (através dos méritos de Cristo)
Ao vistoriar muitas igrejas e escolas cristãs em nosso país, podemos observar uma sub-enfatização da triste realidade de nossa profunda queda em Adão. A depravação total é frequentemente negada, desprezada ou ignorada. Em conseqüência desta distorção da doutrina bíblica está o erro prático de não enxergarmos nossos alunos como pecadores caídos. É que nossos alunos são pecadores regeneráveis através dos méritos de Cristo - não regenerados, mas regeneráveis.
Como um pastor é chamado a traçar uma linha de distinção dentre a sua congregação, distinguindo as marcas bíblicas dos convertidos e não convertidos, assim um professor deve fazer em sua classe.
No seu ensino, a incapacidade humana está balanceada com a capacidade de Deus? A força do pecado com o poder de Deus? Desesperança em si mesmo com esperança em Deus? A livre, soberana e conquistadora graça de Deus é proclamada em seu ensino? Você está ensinando seus alunos que eles são pecadores por causa de seus próprios méritos, mas regeneráveis por causa dos méritos de Cristo? Louvado seja Deus, pois sua graça transcende nosso pecado.

Como ensinar a criança?

Vamos observar Jesus Cristo, o exemplo para todos os professores de escolas cristãs. Ele é o ideal, o padrão, o ponto central sobre o qual devemos colocar nossa atenção. Vamos fazer isto sob as três categorias a seguir:
1)                 Nossa abordagem e metodologia de ensino, ou o falar de Cristo
2)                 Nosso exemplo, ou o andar de Cristo
3)                 Nossa personalidade e experiência, ou o amar de Cristo
Em primeiro lugar, vamos nos concentrar na abordagem e metodologia de ensino, ou o falar de Cristo. Do ministério e do ensino do Senhor Jesus Cristo, podemos aprender muito sobre abordagem e metodologia. Em sua instrução Ele empregou os oito métodos de ensino relacionados abaixo:
1)                 Questionamento
2)                 Preleção
3)                 Contar história
4)                 Debate
5)                 Exemplo
6)                 Relato
7)                 Concreto ao abstrato
8)                Individualização

1)                 Ele utilizou o método de questionamento. Os evangelhos contêm mais de cem perguntas feitas por Jesus Cristo durante seu ministério de ensino na Terra. Isto deve nos dizer algo como professores. Ainda como menino, ele perguntava aos escribas que ensinavam no templo. Imagine o interesse gerado por perguntas como, “É lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou tirá-la?”; “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?”; “De onde era o batismo de João, do céu ou dos homens?” Você percebe o interesse que Ele despertou em seus alunos através destas perguntas que provocam reflexão e interesse? Imagine o interesse que você pode produzir na sua sala, ao começar a lição com perguntas como: O que o seu batismo significa para você hoje? Milhares de exemplos são possíveis. Milhares de perguntas que despertam interesse. Mas note que Jesus não perguntava simplesmente por perguntar. Suas perguntas eram propositais e práticas. Teste-se nesta técnica. Deixe que seu diretor lhe ajude. Peça-lhe antes que visite a sua classe, para observar: - Você poderia prestar atenção na maneira como estou usando perguntas? Usarei várias perguntas nesta lição. Você poderia verificar quão direcionadas elas são? Quão claras são suas seqüências?
2)                 Encontro Jesus ensinando através do método de preleção ou apresentação oral. Considere o modo amoroso que ele ensinou em todo lugar – fora, dentro, nas cidades, no interior, nas montanhas, nos lagos, nas sinagogas, nas casas. Em resumo, onde tinha oportunidade. Estude o lindo Sermão do Monte para obter um exemplo maravilhoso de um ensino bem organizado e poderoso. Note mais uma vez que Ele não está discursando por discursar. Seu ensino é autocentrado ou focalizado no aluno? Seus alunos serão capazes de lhe dizer.
3)                 ... (Não traduzido por extravio desta porção no original - NT)
4)                 O Senhor Jesus usou o debate como um método de ensino. Lembre dos instrutivos debates com Nicodemos, a mulher samaritana, o jovem rico e os apóstolos em inúmeras ocasiões. Através do debate, Cristo direcionou seus alunos ao entendimento mais profundo de várias verdades. O debate encoraja nossos alunos a pensar, a expressar seus pensamentos e a se envolver ativamente no processo de aprendizagem. Observe, entretanto, que não se trata de debater por debater. O debate do grande mestre não era como o dos atenienses, que se ajuntavam somente para ouvir e falar sobre as últimas novidades. Debates significativos precisam ser direcionados.
Há um outro benefício proveniente do método de debate que é importante. Quantos de nossos alunos, na igreja ou na escola, sentem um distanciamento entre eles e seus líderes? O emprego do método do debate provê uma rica oportunidade para aproximar, proporcionar uma troca de pensamentos mais informal, significativa e pessoal, com os estudantes que estão sob os nossos cuidados. Se os jovens vêm a conhecer seus líderes espirituais como pessoas, como sendo humanos, isto produzirá um vínculo mais íntimo.
5)       Jesus Cristo, como o Mestre dos mestres, também empregou o método “aprendendo através do exemplo”. Eu creio que nenhum dos apóstolos jamais esqueceu a verdade ensinada quando Jesus pegou uma toalha e lavou seus pés um por um. Não acredito que os homens que estavam com Davi na caverna, esqueceram o que aconteceu quando aquele que estava perseguindo injustamente sua vida, descansou à entrada da caverna. Quando encorajaram Davi a matar Saul para se livrar deste inimigo e conquistar o reino, ele cortou um pedaço do manto de Saul. Entretanto, quando voltou para seus homens seu coração agitou-se por haver feito isso.
6)       O Senhor Jesus empregou o método do relato quando enviou os setenta para pregar. Quando retornaram, Ele pediu-lhes que relatassem sobre como havia sido e o que haviam experimentado. Só podemos imaginar a troca de ensino que aconteceu. Mas note outra vez aqui, uma lição de ensino prática e importante. Esta foi uma experiência conduzida. Jesus lhes disse o que levar, o que fazer, aonde ir e como agir. Ele lhes deu um projeto claro, um ensino completo e boas instruções antes de enviá-los. Você está guiando seus alunos passo-a-passo através da sua instrução precisa?
7)       Cristo usou o método do concreto ao abstrato. Ele frequentemente usou objetos físicos em seu ensino. Pense na lição que ensinou usando a figueira. Ao ensinar sobre nosso relacionamento com o governo civil, mostrou uma moeda de César. Ao tratar da humildade cristã, tomou uma criança e a colocou no meio para que todos a vissem.
8)       Cristo utilizou também, o método de instrução individualizada. Você alguma vez examinou o ensino de Jesus para observar quão individualistas e precisas eram suas palavras, ações e abordagens para os indivíduos a quem instruía? A um cego curou instantaneamente, somente através da palavra; a um outro, curou por etapas (quando este homem viu homens como árvores que andavam); e a um terceiro usou argila para que a pessoa pudesse sentir os meios que estava usando. Você já notou alguma vez o cuidado carinhoso e a alta estima por indivíduos em particular demonstrados pelo Senhor Jesus durante sua peregrinação?Ao andar entre numerosa multidão, com toda a comoção e excitação que ela produz, ele poderia parar por ouvir uma voz, ver uma pessoa ou sentir o toque de um indivíduo necessitado.
Imagine o pátio de uma escola primária pela manhã, antes do início das aulas, com todo o tumulto da entrada das crianças. Uma professora primária, ocupada com uma porção de material para reproduzir, ouve a voz de uma criancinha. Ela pára e se inclina para ouvir uma aluna da 2ª série dizer: - Professora, a senhora sabe o que aconteceu ontem à noite? Ali, no meio da multidão e confusão, uma criança está animada e agitada. Um interesse cuidadoso e generoso é comunicado para aquela pessoa por sua professora.
Apesar de não sermos divinos, somos chamados a seguir seus passos. Que bênção poder ver, pela graça de Deus, doenças aparentemente incuráveis como a insegurança, solidão e falta de auto-estima, curadas através de toques miraculosos de cuidado e atenção. Tais ações transmitem os sentimentos interiores de um coração amoroso.
O Senhor Jesus Cristo, como o perfeito Mestre, Mestre dos mestres, empregou estes oito métodos de ensino. Ele os empregou de forma intercambiável à medida que a situação requeria. Que Deus permita que também nós nos esforcemos como professores, a seguir o exemplo do ensino de Cristo, tanto na abordagem quanto na metodologia.
Em segundo lugar, vamos considerar como ensinar a criança/ o aluno pelo exemplo, pelo modelo – o andar de Cristo.  
Como mencionado anteriormente, o modo como ensinamos a criança provém do modo como a conceituamos.
Você crê que as crianças as quais você ensina são especialmente criadas por Deus e de valor eterno? O modo como você as vê será refletido no modo como você as trata. Se eu a visse segurando um vaso, por exemplo, poderia observar por suas ações, o quanto você valoriza aquele objeto. Se você mexe nele de maneira rotineira e, algumas vezes, descuidada, isto reflete que sua consideração pelo vaso não é nada especial. No entanto, seu trato com respeito e zelo, revelaria sua alta estima e apreço por ele.
Você está modelando, mostrando pelo exemplo, que todo ser humano é uma criação especial de Deus e de eterno valor, que muito excede o valor de qualquer vaso? Se alguém sentar no fundo da sua classe para observar seu ensino, ele perceberia que você considera seus alunos como quem tem valor eterno? Estas questões são de importância crucial; elas tratam da realidade prática – o colocar as doutrinas na prática diária.
Quando professamos que as crianças são pecadoras caídas, esta confissão é verdadeira na nossa realidade diária? Se alguém ficasse na sala dos professores, despercebidamente, ouviria repetidamente observações semelhantes às seguintes: - Não posso entender por que ele faz isso!! Vocês sabem o que ele disse depois? O que será que deu neles?! Eu não acredito nisso! Por que estão sempre me testando? Por que não se comportam? Na realidade, estas perguntas revelam que não cremos verdadeiramente, na nossa confissão a respeito de nossas crianças serem pecadoras caídas e depravadas. Conhecemos algo sobre nosso próprio coração sobre este aspecto e portanto, não é tão difícil entender os pecados dos outros. Quanto mais próximo vivemos do Senhor, mais vividamente nos conscientizamos da nossa natureza pecaminosa e menos críticos seremos para com outros. Isto não significa que você não deva censurar o erro e nem punir os culpados na sua classe; você deve fazer isto. Entretanto, há uma diferença significativa em fazê-lo com um espírito que reconhece a pecaminosidade que há em todos nós e com a qual devemos lidar ou com uma atitude de surpresa, aversão e um “não posso entender estes terríveis alunos”.
Nós cremos e ensinamos muitas verdades morais cristãs, não é? Você tem sido modelo destas verdades? Seu exemplo revela sinceridade ou insinceridade hipócrita? Atente para estes exemplos da vida diária:
1)                    Se você ensina sobre a importância da clareza e faz com que os alunos reescrevam redações malfeitas, mas eles não conseguem ler o que você anotou no caderno deles ou no quadro negro, o que você está ensinando de fato?
2)                    Se você exige que seus alunos mantenham suas carteiras arrumadas e os proíbe de ir ao recreio se elas não estiverem, enquanto sua mesa e gavetas estão longe disto, o que você está ensinando de fato?
3)                    Se você exige que seus alunos usem o dicionário para pronunciar corretamente as palavras, mas você não o faz, o que você está ensinando de fato?
4)                    Se você enfatiza para os alunos a necessidade de planejamento e organização, embora seu plano de aulas não esteja completo para o dia seguinte, o que você está ensinando de fato?
Os valores que vivenciamos falam mais alto do que os valores sobre os quais falamos.
Existem “valas” opostas que devemos evitar para permanecer no caminho apropriado visando dar exemplo. Um exemplo é pensarmos que podemos ser o ideal perfeito; o outro é não se esforçar para seguir este ideal. O primeiro leva ao desespero. O segundo leva à preguiça. Não há esforço para o aprimoramento, só desculpas. Jesus Cristo é o ideal, o Mestre maior, o exemplo perfeito.
Jesus Cristo, o Mestre maior, é novamente aqui nosso mentor perfeito. Seu falar e viver foram unidos consistente e graciosamente.
No Evangelho de Mateus lemos “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me deste de comer; tive sede e me deste de beber; era forasteiro e me hospedaste; estava nu e me vestiste; enfermo, e me visitaste; preso e foste ver-me” (Mt. 25: 34b-36). Quando chegamos às nossas escolas como administradores, professores ou auxiliares, nós estamos “indo fazendo o bem”? Estamos alimentando os famintos – os que têm fome de atenção? Estamos acolhendo os estrangeiros – os que frequentemente se sentem excluídos? Estamos provendo cuidado especial aos fracos, feridos e necessitados – os que sofrem acadêmica, emocional e socialmente? Estamos nos esforçando para vestir o que está nu – aqueles deixados descobertos pela brincadeira de mau gosto e escárnio? Estamos visitando os que estão em prisões – aqueles trancados em prisões internas de temores e dúvidas? Creio que quanto mais seguimos as pegadas do Mestre neste aspecto, mais poderemos observar uma atmosfera de cuidado e zelo para com outros nas nossas escolas cristãs, à semelhança de Cristo.
Somos verdadeiramente pessoas diferentes? Somos realmente diferentes de acordo com a Lei de Deus, a Lei que requer amor, amor a Deus e ao próximo? As pessoas que visitam nossas escolas podem sentir a diferença?
O mundo é egocêntrico e preocupado com seus próprios interesses. Somos teocêntricos e nos preocupamos com os interesses dos outros? Pode-se dizer das nossas escolas o que disseram da igreja no Novo Testamento: Vede como amam uns aos outros?
Você tem se esforçado para andar nas pisadas do Mestre? Você suplica em suas orações matinais, por graça que lhe habilite evidenciar amor e interesse verdadeiros em todos os encontros com funcionários e estudantes no seu dia? Você tem lutado para colocar estes ideais em prática? Teste-se ao anoitecer. Pergunte a si mesmo: - A quantos alunos carentes eu, particularmente, estendi a mão hoje?
Vamos focalizar nossos pensamentos, rapidamente, sobre as seguintes perguntas:
1)                 Vocês têm ensinado com uma sincera consciência da presença de Deus?
2)                 Vocês têm ensinado com uma sincera consciência de estar sendo empregado no serviço de Deus?
3)                 Vocês têm ensinado com uma sincera consciência da dependência de Deus?
Primeiramente, é necessária uma sincera consciência da presença de Deus. Toda verdade é verdade de Deus.
Para ensinar uma consciência da presença de Deus, primeiro você deve estar ciente dela. Entretanto, se já tem ciência dela, então como ensiná-la? Deve haver profunda reverência e respeito pela fidelidade de Deus em sustentar fielmente Seu mundo. Devemos entender que estamos lidando com o mundo de Deus.
Na revelação natural (mundo de Deus) cada impressão revela seu artista divino; na revelação especial (Palavra de Deus) cada impressão revela seu divino Autor.
Seus alunos estão plenamente conscientes disto?
Em segundo lugar, vamos considerar ensinar com uma sincera consciência de estar servindo a Deus.
Você vê a si mesmo como responsável perante Deus, ou somente por si? Ao ensinar, minha responsabilidade se multiplica. Ao ensinar, eu toco na vida de outros.
Podemos nos testar perguntando: buscamos agradar a Deus ou só a nós mesmos? Servimos a outros ou só a nós? Como vemos nosso chamado como professores de escolas cristãs? Nossos tementes antepassados puritanos mantiveram com firmeza, o princípio de que tudo na vida é sagrado, tudo na vida é religioso. Todas as nossas ações são religiosas porque são realizadas na presença de Deus.
Vamos examinar alguns exemplos de um dia escolar, à luz desta realidade:
1)                   Se você chega à escola pela manhã, mais tarde do que o horário normal, você se preocupa principalmente se os outros notaram, ou com Deus? Você essencialmente busca agradar aos homens ou a Deus?
2)                   Se você esqueceu sua tarefa de supervisionar o recreio, você fica mais preocupado em se o diretor vai descobrir, ou você serve a um Patrão superior?
3)                   Se você vê papéis jogados no corredor, você pára para apanhá-los ou não pára porque eles não são seus? Você é alguém que serve a outros, ou só a si mesmo?
Quando João Batista perguntou a Jesus se Ele era ou não o Messias prometido, Jesus lhe respondeu: “Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho” (Mt. 11: 4-5). A realidade do Cristo, a sua presença, foi confirmada por estes frutos. Estes eventos são vistos na sua escola cristã, na sua classe? Aqueles que são cegos com relação a sua condição e ao propósito de suas vidas estão começando a ver? Os que não escutam os sons gloriosos do Evangelho estão começando a ouvir? O paralítico espiritual está começando a andar? Os leprosos espirituais estão sendo purificados, os mortos espirituais são ressuscitados, o rico Evangelho da graça é pregado para o pobre espiritual? Isto está acontecendo na sua escola? Na sua classe?
Isto nunca é possível por nossa própria força; mas isto é possível através dos méritos e do poder de Cristo. Como Jacó, vocês estão lutando por uma bênção, dizendo: eu não Te deixarei até que Tu abençoes a mim e aos meus alunos? Nossas impossibilidades, a Tua possibilidade; nosso vazio, a Tua plenitude; nossa pobreza, a Tua riqueza. Vocês têm servido como professores, ou como professores cristãos?
Já consideramos as questões de “como devo avaliar a criança” e “como devo ensinar a criança” e examinaremos agora a terceira e final dessas questões principais, “como devo disciplinar a criança/aluno”.
Vamos focalizar nossa atenção sobre estes três temas principais, que dizem respeito à disciplina:
1)                 A base bíblica da disciplina
2)                 Os componentes bíblicos da disciplina
3)                 A prática bíblica da disciplina
A palavra disciplina encontra sua origem e raiz na palavra discípulo. Um discípulo é alguém que segue seu mestre. Ser um discípulo significa mais do que simplesmente ser um aluno; mais do que alguém que é ensinado.
Como os pais e professores devem disciplinar seus filhos ou alunos? Eles devem discipulá-los, treiná-los a seguir e a abraçar o caminho que lhes é ensinado. Isto, é claro, suscita a questão pertinente sobre quem ensina e quais são os ensinamentos.
É importante para os jovens entenderem que seus pais e professores são responsáveis diante de Deus sobre como usam a autoridade que lhes foi concedida para governarem suas casas ou salas de aula. Eles não podem governar como querem; eles são chamados para governarem como Deus quer.
Examinemos os componentes bíblicos da disciplina.
Existem dois componentes inerentes à disciplina bíblica, ou seja:
1)                      Disciplina preventiva
2)                      Disciplina corretiva
Primeiro, vamos examinar a disciplina preventiva ou instrução bíblica. Por exemplo, uma coisa é punir severamente um aluno da 3ª série por copiar as respostas de um colega e outra é instruí-lo sobre o porquê copiar respostas de outra pessoa é ao mesmo tempo, mentir e roubar, e como isto é pecado à vista de Deus. A “cola” rouba aquilo que não é meu e quando aquele que colou coloca seu próprio nome na prova, está mentindo, pois as respostas no papel não são suas.
Uma coisa é punir uma garota da 1ª série do ensino médio por usar algo indecente. Outra coisa é instruir os jovens que a personalidade, beleza e a atração humana é mais do que superficial. Atrair alguém fisicamente é atrair para o corpo, não para a pessoa. A sensualidade difere profundamente do amor. A Palavra de Deus fala de um amor muito mais elevado, nobre e autêntico do que a atração física superficial, vazia, do mundo.
Estes são três exemplos práticos. A instrução bíblica prática é um meio que Deus pode abençoar para reduzir o pecado. É disciplina preventiva. A instrução deveria preceder, acompanhar e seguir a punição.
Uma disciplina preventiva efetiva pode ser um meio para reduzir vários tipos de ofensas rotineiras.
Pense por um momento, em duas salas da 1ª série. Numa delas, a professora pergunta para a sua turma: quanto é 9 + 5? Doze alunos respondem, alguns bem alto (para serem ouvidos primeiro): 14! A professora responde de maneira bastante exasperada: quantas vezes já disse para não responderem todos juntos?! Vão perder 10 minutos do recreio! Na outra sala, o professor diz: levantem as mãos os alunos que sabem quanto é 9 + 5. Doze alunos levantam as mãos, um é chamado para responder e a aula continua calmamente.
A disciplina preventiva não deveria somente ensinar as expectativas da Lei de Deus, mas também transmitir o espírito da Lei. Deve transmitir amor e compreensão para nossos alunos.
Procedimentos preventivos transmitem uma importante mensagem aos nossos alunos, especialmente aos de maior idade. Quando eles percebem que desejamos evitar que eles recebam punições ao invés de estarmos ansiosos por puni-los, um fundamento importante foi estabelecido.
A disciplina preventiva requer expectativas e rotinas consistentes.
A disciplina corretiva deve ser motivada pela mesma fonte da disciplina preventiva, que é o amor.
Disciplinar um aluno firmemente, quando se está emocionalmente alterado, é arriscado. Vocês são humanos. Depois de trabalhar até tarde na noite anterior e planejar tudo detalhadamente para que a aula do dia seguinte ocorra calmamente, é muito frustrante presenciar um comportamento desordeiro, especialmente se for freqüente. É difícil não perceber estas ações como motivadas pessoalmente contra você, como se tivessem feito propositalmente para atrapalhar sua aula. Na verdade, a opinião dos outros alunos provavelmente significa muito mais para eles, do que as suas. Mande o aluno se retirar da sala para que você possa conversar com ele mais tarde. Isto traz duas vantagens: vocês dois podem se entender antes de tomar uma resolução e, você terá tempo para organizar seus pensamentos e tomar uma decisão cuidadosa, ao invés de aleatória.
Ao administrar disciplina corretiva, pergunte a si mesmo:
1)                      Estou motivado por preocupação amorosa (não por razões pessoais)?
2)                      Estou visando a consciência (não o castigo)?
3)                      Estou fazendo conscientemente (não por impulso)?
4)                      Estou buscando correção (não retaliação)?
A punição não bíblica se concentra nos erros que foram cometidos no passado. A disciplina bíblica visa o futuro, busca a correção do mau comportamento. Enfatiza o aperfeiçoamento e a correção.
Vamos examinar cinco princípios bíblicos (orientações práticas) com relação ao exercício da disciplina estudantil.
1)                   Discipline com amor e zelo. Uma coisa é amá-los, outra coisa é transmitir nosso amor. Eles devem sentir nosso amor pela maneira com que falamos com eles e sobre eles. Nunca devemos degradar ou insultar nossos alunos. Nunca devemos ridicularizá-los ou humilhá-los. Devemos demonstrar interesse sobre suas preocupações e apreciação por suas idéias.
Use todas as oportunidades. Use o tempo informal disponível. Chegue à escola cedo suficiente para dizer-lhes “oi” e mostrar-lhes interesse. Se você chega tarde e precisa correr para preparar tudo para aquele dia, perderá oportunidades preciosas de demonstrar interesse e cuidado. Você prefere que seus alunos estejam fora da escola até o começo da aula ou você valoriza este tempo informal? Como você vê as suas obrigações do meio-dia[1]?Você também procura oportunidades para se misturar e conversar com seus alunos?
2)                   Discipline com firmeza. “Não retires da criança a disciplina, pois se a fustigares com a vara, não morrerá” (Pv. 23:13).
O excesso de disciplina derrama combustível sobre as chamas da rebelião inata.
Excesso de sermão, advertência e gritos, tornam-se formadores de hábito. Fazendo isto, treinamos nossos filhos a não escutarem até que falemos pela terceira vez, ou os ameacemos, ou gritemos com eles.
Gritos freqüentes produzem esgotamento emocional e raiva no professor e apenas treina nossos alunos a não ouvir até que nossas vozes alcancem uma potência mais alta. Aqueles que vivem perto de uma cachoeira ou de um trilho de trem, nunca ouvem o barulho. Às vezes a raiva deve ser demonstrada como Jesus mostrou ao limpar o templo dos cambistas, mas isto deve ser a exceção, não a regra. A raiva freqüente, somente agrava a situação e perde todo poder efetivo.
3)                   Discipline pelo exemplo. Explique, modele, mas acima de tudo, seja aquilo que você deseja que seus filhos e alunos sejam.
4)                   Discipline através do controle. Controle não significa somente dizer, “não”. Devemos treiná-los a pedir nossa permissão. Dizer sempre “não”, os desencorajará a pedir e se abrir conosco e os encorajará a serem desonestos.
5)                   Discipline com consistência. Se não conseguimos nos controlar, como controlaremos outros? Controle próprio é essencial. Se um dia estamos de bom humor e tudo está bem e no outro dia estamos de mau humor e nada está bom, nossos alunos se tornarão confusos e desencorajados. Uma boa liderança é 10% inspiração e 90% transpiração.
Para conseguir consistência em casa, é necessário harmonia entre os pais; na escola é necessária a unidade entre os professores. “Se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir” (Mc. 3: 25). O professor inconsistente sempre enfrentará problemas disciplinares.
Quando consideramos a enorme responsabilidade de ensinar e treinar nossas crianças, as quais Deus nos confiou, devemos exclamar: “quem é suficiente para estas coisas?” (2 Co. 2: 16). Lidamos com seres humanos, isto é, com almas destinadas à eternidade. Da nossa perspectiva, cada uma delas têm possibilidade de ser restaurada à imagem de Deus, pelo Espírito Santo, eternamente. Todas têm a possibilidade de serem regeneradas como filhos de Deus. Cada criança é muito preciosa. Cada uma tem um valor inestimável! Que responsabilidade tremenda!
Isto deveria nos conduzir ao Senhor em oração. Necessitamos diariamente a orientação e direção divina. Deus nos instrui a trazer nossas necessidades diárias até Ele.
Sejamos pois encorajados em Deus, em Sua Palavra e fidelidade. Num espírito de esperança diante do Senhor, vamos orar e trabalhar. Sem o Senhor nada podemos fazer, mas nEle e através dEle todas as coisas são possíveis.
Não sejamos desencorajados por não vermos frutos imediatos na vida de nossas crianças. Deus prometeu: “Lança o teu pão sobre as águas”. Mas Ele acrescentou: “porque depois de muitos dias, o acharás” (Ec. 11: 1). O modo e o tempo de Deus são mais elevados do que os nossos.

Traduzido por Tânia Gueiros.
Fonte: 
http://www.arpav.org.br/

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