Neste vídeo, Augustus Nicodemus faz uma exposição do texto em Tiago 1. Assista:
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domingo, outubro 12, 2014
quinta-feira, setembro 04, 2014
Exposição de Filipenses 2:12-13
Exposição de Filipenses 2:12-13
William Hendrilksen
“Assim, pois, meus amados, como sempre obedeceram, não só em minha presença, mas muito mais agora em minha ausência, continuem desenvolvendo sua própria salvação com temor e com tremor. Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer quanto o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2:12-13)
A obediência dos filipenses não deve ser motivada pela presença de Paulo, nem durar só enquanto ele estiver em seu meio. Ao contrário, sua própria ausência deve imprimir-lhes a idéia de que agora mais do que nunca devem tomar a iniciativa. Especialmente agora devem se esforçar, porque devem contar com seus próprios recursos; sem dúvida não no que diz respeito a Deus, mas no que diz respeito a Paulo. Agora eles devem desenvolver “sua própria salvação”, ou seja, devem desenvolvê-la à parte da assistência de Paulo. Sim, eles devem desenvolvê-la, isto é, levá-la à sua conclusão, digeri-la plenamente e aplicá-la ao viver diário. Devem envidar todo esforço para produzir todos os frutos do Espírito (a lista completa de Gl 5.22,23). Devem almejar nada menos que a perfeição moral e espiritual. Não nos equivocamos ao afirmar que, em tal contexto, o tempo do verbo indica que Paulo tinha em mente a idéia de um esforço contínuo, vigoroso, estrêmuo: “Continuem a desenvolver.” Os crentes não são salvos de um só golpe (por assim dizer). Sua salvação é um processo (Lc 13.23; At 2.47; 2Co 2.15). É um processo no sentido em que eles mesmos, longe de permanecerem passivos ou inativos, tomam parte ativa. É um prosseguir, um seguir após, um avançar com determinação, uma contenda, uma luta, uma corrida (ver Fp 3.12; também Rm 14.18; 1Co 9.24-27; 1Tm 6.12).
Não é fácil manter um esforço tão constante e vigoroso. É uma batalha que se processa em três frentes, uma guerra contra a combinação tremendamente poderosa e astuta do mundo, do demônio e da carne. Significa fazer pleno uso de todo meio divinamente ordenado para vencer o mal e trazer à luz o bem que há neles (“neles”, porque Deus os colocou ali!).
Uma coisa é dizer: “Façam tudo para a glória de Deus”; e outra bem diferente é pôr isso em prática. Uma coisa é orar: “Assim como nós perdoamos nosso devedores”; outra muito mais difícil é perdoar realmente. Uma coisa é ostentar um cartaz bem escrito e belo: outra coisa é reconhecê-lo de fato como Cabeça, submetendo-lhe, em oração, todos os assuntos importantes e obedecendo a cada um de seus mandamentos.
Uma coisa é asseverar piedosamente: “A soberania de Deus é o princípio fundamental da fé e prática”; muitíssimo difícil é submeter-se, confiadamente, a essa vontade soberana, quando um ente querido, paulatinamente, se definha e, finalmente, vem a falecer. E assim poderíamos continuar indefinidamente. De fato, a tarefa que aqui está posta sobre os ombros dos filipenses é tão difícil que, deixados ao sabor de seus próprios recursos, não poderão realizar como não o poderia o inválido descrito em João 5: levantar-se e andar. A este, todavia, Jesus manda: “Levante, tome seu leito e ande.” E, em substância, ele diz aos filipenses que considerem o desenvolvimento de sua própria salvação a tarefa de sua vida. Note bem: sua salvação, aqui, enfatiza aquele aspecto da salvação a que chamamos santificação.
Por ser esta tarefa algo tão vital, ela deve ser efetuada “com temor e tremor”. A importância desta frase faz que preceda o verbo que a modifica. Lemos: “Com temor e tremor, continuem a desenvolver sua própria salvação.”
“Com temor e tremor” (cf. 1Co 2.3; 2Co 7.15; Ef 6.5). Significado: NÃO no espírito de: indiferença, mente dividida (1Rs 18.21) desrespeito e desdém (At 17.18) confiança em si próprio (Mt 26.33) justiça própria (Lc 18.11) MAS, no espírito de: sinceridade, unidade de propósito (Sl 119.10,34) reverência e respeito, temor de ofender a Deus de qualquer maneira (Gn 39.9; Hb 12.28) confiança em Deus (2Cr 20.12) humildade (Lc 18.13)
(2) O Incentivo para Atenção
13. Tal temor e tremor não quer dizer desespero. É justamente o oposto disso. Paulo diz, alentadoramente: “Vocês, filipenses, devem continuar a operar sua própria salvação, e vocês podem fazer isso, porque é Deus quem está operando em vocês.” Se não fosse o fato de Deus estar operando em vocês, filipenses, jamais estariam a desenvolver sua própria salvação. Ilustremos:
A torradeira não pode produzir pão torrado a menos que esteja “ligada” para que seus fios de nicromo estejam aquecidos pela corrente que os liga à central elétrica. O ferro elétrico é inútil a menos que seu plugue esteja acoplado à tomada. À noite não haverá luz na sala a menos que a eletricidade flua pelos fios de tungstênio para dentro da lâmpada, cada filamento mantendo contato com os cabos que vêm da fonte de energia. As rosas do jardim não podem alegrar o coração humano com sua beleza e fragrância a menos que extraiam sua virtude dos raios solares. Melhor ainda: “Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira; assim, nem vocês o podem dar, se não permanecerem em mim” (Jo 15.4).
Assim também aqui. Os filipenses só poderão operar sua própria salvação permanecendo num vivo e ativo contato com seu Deus. E é exatamente porque Deus começou boa obra neles – não são eles os “amados”? –, e porque Deus começou essa boa obra, também a levará à perfeição (Fp 1.6), os filipenses, como “cooperadores de Deus” (cf. 1Co 3.9), poderão levar essa salvação a sua conclusão. Não só o princípio, mas cada ponto do processo salvífico é de Deus (Jo 1.12; 15.5b; 1Co 15.10; Ef 2.8,10; Fp 1.6,28,29; 3.19,9,12; especialmente 4.13). Somos “feitura”, sua criação, seu “poema”. Ele nos fez o que somos. Por meio de seu Espírito operando nos corações de seu povo (Fp 1.19), aplicando-lhes os meios de graça e todas as experiências de vida, Deus é o Operador, grande, constante e efetivo, o Energizador, operando na vida dos filipenses, realizando neles tanto o querer quanto o realizar. Note bem: não só o executar, mas também o querer, isto é, o decidir e o desejar:
“Não foi porque eu te escolhi,
Porque, Senhor, isso seria impossível.
Este coração ainda te rejeitaria,
Caso não me tivesses escolhido.
Do pecado que me manchava
Me limpaste e me livraste;
Desde a eternidade me ordenaste
A fim de que para ti eu pudesse viver.”
(Josiah Conder)
O paralítico, cuja história se acha impressa em João 5, era incapaz de andar. Todavia, mediante a palavra de Jesus, ele se põe em pé, toma seu leito e começa a andar. O que não pode fazer pela própria força, ele pode, deve e faz, e isto na força do Senhor.
Quanto ao querer e ao realizar, os fatos são exatamente como se acham declarados em Os Cânones de Dort III e IV, artigos 11 e 12: “Ele infunde novas qualidades na vontade, e faz que essa vontade, outrora morta, reviva; sendo má, desobediente e rebelde, ele a faz boa, obediente e maleável; ele move e fortalece de tal maneira essa vontade que, qual boa árvore, passa a produzir frutos de boas ações ... A vontade, assim renovada, não só é movida e influenciada por Deus, mas, em decorrência dessa influência, se torna ativa."
A maneira como Deus opera no coração de seu filho, habilitando o a querer e realizar, em lugar algum é mais belamente descrito do que em Efésios 3.14-19. O acréscimo que o apóstolo faz é muito confortador: segundo seu beneplácito. É por causa de e com vista à execução de seu beneplácito que Deus, como fonte infinita de energia espiritual e moral, faz que os crentes operem sua própria salvação. “Fá-los” – ainda que sem anular, de modo algum, sua própria responsabilidade e atividade. Note, além disso, o termo beneplácito. O Dr. H. Bavinck (em The Doctrine of God, tradução inglesa, p. 370) diz: “A graça e a salvação são os objetos do deleite divino; Deus, porém, não tem prazer no pecado nem se compraz na punição.” Esta declaração está em harmonia com a Escritura (Lm 3.33; Ez 18.23; 33.11; Os 11.8; Ef 1.5,7,9).
Fonte: Comentário Bíblicos de Filipenses - William Hendriksen - págs. 492-496
William Hendrilksen
“Assim, pois, meus amados, como sempre obedeceram, não só em minha presença, mas muito mais agora em minha ausência, continuem desenvolvendo sua própria salvação com temor e com tremor. Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer quanto o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2:12-13)
A obediência dos filipenses não deve ser motivada pela presença de Paulo, nem durar só enquanto ele estiver em seu meio. Ao contrário, sua própria ausência deve imprimir-lhes a idéia de que agora mais do que nunca devem tomar a iniciativa. Especialmente agora devem se esforçar, porque devem contar com seus próprios recursos; sem dúvida não no que diz respeito a Deus, mas no que diz respeito a Paulo. Agora eles devem desenvolver “sua própria salvação”, ou seja, devem desenvolvê-la à parte da assistência de Paulo. Sim, eles devem desenvolvê-la, isto é, levá-la à sua conclusão, digeri-la plenamente e aplicá-la ao viver diário. Devem envidar todo esforço para produzir todos os frutos do Espírito (a lista completa de Gl 5.22,23). Devem almejar nada menos que a perfeição moral e espiritual. Não nos equivocamos ao afirmar que, em tal contexto, o tempo do verbo indica que Paulo tinha em mente a idéia de um esforço contínuo, vigoroso, estrêmuo: “Continuem a desenvolver.” Os crentes não são salvos de um só golpe (por assim dizer). Sua salvação é um processo (Lc 13.23; At 2.47; 2Co 2.15). É um processo no sentido em que eles mesmos, longe de permanecerem passivos ou inativos, tomam parte ativa. É um prosseguir, um seguir após, um avançar com determinação, uma contenda, uma luta, uma corrida (ver Fp 3.12; também Rm 14.18; 1Co 9.24-27; 1Tm 6.12).
Não é fácil manter um esforço tão constante e vigoroso. É uma batalha que se processa em três frentes, uma guerra contra a combinação tremendamente poderosa e astuta do mundo, do demônio e da carne. Significa fazer pleno uso de todo meio divinamente ordenado para vencer o mal e trazer à luz o bem que há neles (“neles”, porque Deus os colocou ali!).
Uma coisa é dizer: “Façam tudo para a glória de Deus”; e outra bem diferente é pôr isso em prática. Uma coisa é orar: “Assim como nós perdoamos nosso devedores”; outra muito mais difícil é perdoar realmente. Uma coisa é ostentar um cartaz bem escrito e belo: outra coisa é reconhecê-lo de fato como Cabeça, submetendo-lhe, em oração, todos os assuntos importantes e obedecendo a cada um de seus mandamentos.
Uma coisa é asseverar piedosamente: “A soberania de Deus é o princípio fundamental da fé e prática”; muitíssimo difícil é submeter-se, confiadamente, a essa vontade soberana, quando um ente querido, paulatinamente, se definha e, finalmente, vem a falecer. E assim poderíamos continuar indefinidamente. De fato, a tarefa que aqui está posta sobre os ombros dos filipenses é tão difícil que, deixados ao sabor de seus próprios recursos, não poderão realizar como não o poderia o inválido descrito em João 5: levantar-se e andar. A este, todavia, Jesus manda: “Levante, tome seu leito e ande.” E, em substância, ele diz aos filipenses que considerem o desenvolvimento de sua própria salvação a tarefa de sua vida. Note bem: sua salvação, aqui, enfatiza aquele aspecto da salvação a que chamamos santificação.
Por ser esta tarefa algo tão vital, ela deve ser efetuada “com temor e tremor”. A importância desta frase faz que preceda o verbo que a modifica. Lemos: “Com temor e tremor, continuem a desenvolver sua própria salvação.”
“Com temor e tremor” (cf. 1Co 2.3; 2Co 7.15; Ef 6.5). Significado: NÃO no espírito de: indiferença, mente dividida (1Rs 18.21) desrespeito e desdém (At 17.18) confiança em si próprio (Mt 26.33) justiça própria (Lc 18.11) MAS, no espírito de: sinceridade, unidade de propósito (Sl 119.10,34) reverência e respeito, temor de ofender a Deus de qualquer maneira (Gn 39.9; Hb 12.28) confiança em Deus (2Cr 20.12) humildade (Lc 18.13)
(2) O Incentivo para Atenção
13. Tal temor e tremor não quer dizer desespero. É justamente o oposto disso. Paulo diz, alentadoramente: “Vocês, filipenses, devem continuar a operar sua própria salvação, e vocês podem fazer isso, porque é Deus quem está operando em vocês.” Se não fosse o fato de Deus estar operando em vocês, filipenses, jamais estariam a desenvolver sua própria salvação. Ilustremos:
A torradeira não pode produzir pão torrado a menos que esteja “ligada” para que seus fios de nicromo estejam aquecidos pela corrente que os liga à central elétrica. O ferro elétrico é inútil a menos que seu plugue esteja acoplado à tomada. À noite não haverá luz na sala a menos que a eletricidade flua pelos fios de tungstênio para dentro da lâmpada, cada filamento mantendo contato com os cabos que vêm da fonte de energia. As rosas do jardim não podem alegrar o coração humano com sua beleza e fragrância a menos que extraiam sua virtude dos raios solares. Melhor ainda: “Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira; assim, nem vocês o podem dar, se não permanecerem em mim” (Jo 15.4).
Assim também aqui. Os filipenses só poderão operar sua própria salvação permanecendo num vivo e ativo contato com seu Deus. E é exatamente porque Deus começou boa obra neles – não são eles os “amados”? –, e porque Deus começou essa boa obra, também a levará à perfeição (Fp 1.6), os filipenses, como “cooperadores de Deus” (cf. 1Co 3.9), poderão levar essa salvação a sua conclusão. Não só o princípio, mas cada ponto do processo salvífico é de Deus (Jo 1.12; 15.5b; 1Co 15.10; Ef 2.8,10; Fp 1.6,28,29; 3.19,9,12; especialmente 4.13). Somos “feitura”, sua criação, seu “poema”. Ele nos fez o que somos. Por meio de seu Espírito operando nos corações de seu povo (Fp 1.19), aplicando-lhes os meios de graça e todas as experiências de vida, Deus é o Operador, grande, constante e efetivo, o Energizador, operando na vida dos filipenses, realizando neles tanto o querer quanto o realizar. Note bem: não só o executar, mas também o querer, isto é, o decidir e o desejar:
“Não foi porque eu te escolhi,
Porque, Senhor, isso seria impossível.
Este coração ainda te rejeitaria,
Caso não me tivesses escolhido.
Do pecado que me manchava
Me limpaste e me livraste;
Desde a eternidade me ordenaste
A fim de que para ti eu pudesse viver.”
(Josiah Conder)
O paralítico, cuja história se acha impressa em João 5, era incapaz de andar. Todavia, mediante a palavra de Jesus, ele se põe em pé, toma seu leito e começa a andar. O que não pode fazer pela própria força, ele pode, deve e faz, e isto na força do Senhor.
Quanto ao querer e ao realizar, os fatos são exatamente como se acham declarados em Os Cânones de Dort III e IV, artigos 11 e 12: “Ele infunde novas qualidades na vontade, e faz que essa vontade, outrora morta, reviva; sendo má, desobediente e rebelde, ele a faz boa, obediente e maleável; ele move e fortalece de tal maneira essa vontade que, qual boa árvore, passa a produzir frutos de boas ações ... A vontade, assim renovada, não só é movida e influenciada por Deus, mas, em decorrência dessa influência, se torna ativa."
A maneira como Deus opera no coração de seu filho, habilitando o a querer e realizar, em lugar algum é mais belamente descrito do que em Efésios 3.14-19. O acréscimo que o apóstolo faz é muito confortador: segundo seu beneplácito. É por causa de e com vista à execução de seu beneplácito que Deus, como fonte infinita de energia espiritual e moral, faz que os crentes operem sua própria salvação. “Fá-los” – ainda que sem anular, de modo algum, sua própria responsabilidade e atividade. Note, além disso, o termo beneplácito. O Dr. H. Bavinck (em The Doctrine of God, tradução inglesa, p. 370) diz: “A graça e a salvação são os objetos do deleite divino; Deus, porém, não tem prazer no pecado nem se compraz na punição.” Esta declaração está em harmonia com a Escritura (Lm 3.33; Ez 18.23; 33.11; Os 11.8; Ef 1.5,7,9).
Fonte: Comentário Bíblicos de Filipenses - William Hendriksen - págs. 492-496
quinta-feira, agosto 14, 2014
Exposição de Romanos 8:28 - Matthew Henry
Exposição de Romanos 8:28
Matthew Henry
"E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito." (Romanos 8:28)
A cooperação de todas as providências para o bem daqueles que são de Cristo. Pode-se objetar que, apesar de todos esses privilégios, nós vemos crentes rodeados de diversas aflições; embora o Espírito interceda por eles, as suas tribulações continuam. Isso é realmente verdade; mas nesse caso também a intercessão do Espírito é sempre eficaz, no sentido de que, por mais que sejam afligidos, tudo está cooperando para o seu bem. Observe aqui:
1. O caráter dos santos que se beneficiam desse privilégio; eles são descritos aqui pelas qualidades que são comuns a todos os que são verdadeiramente santificados.
2. O privilégio dos santos, “...que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus”, isto é, todas as providências de Deus que lhes dizem respeito. Tudo o que Deus realiza, é por eles que Ele realiza (SI 57.2). Os pecados deles não são realização dele, por isso não são aludidos aqui, embora sua permissão em relação ao pecado trabalhe pelo bem deles (2 Cr 32.31). Mas todas as providências de Deus são deles - providências compassivas, providências que angustiam, pessoais e públicas. Todas elas são para o bem; talvez para o bem temporal, como as tribulações de José; pelo menos, para o bem espiritual e eterno. E bom para eles o que faz bem para as suas almas. Seja direta ou indiretamente, cada providência tende ao bem espiritual daqueles que amam a Deus, separando-os do pecado, aproximando- os de Deus, afastando-os do mundo, tornando-os apropriados para o céu. Contribuem juntamente. Elas trabalham, como o médico sobre o corpo, de várias formas, de acordo com sua intenção, mas tudo para o bem do paciente. Contribuem juntamente, como vários ingredientes em um remédio concorrem para um resultado. Deus colocou um em oposição ao outro (Ec 7.14): synergei, um verbo no singular acompanhando um substantivo no plural, denotando a harmonia da Providência e seus desígnios uniformes, todas as rodas como uma roda (Ez 10.13). Ele operou todas as coisas juntamente para o bem, assim alguns lêem. Isso não vem de qualquer qualidade específica das próprias providências, mas do poder e da graça de Deus que trabalha em, com e através dessas providências. Tudo isso, nós sabemos - temos certeza, a partir da palavra de Deus, a partir de nossa própria experiência, e da experiência de todos os santos.
Comentário Bíblico do Novo Testamento de Atos a Apocalipse - Matthew Henry
Matthew Henry
"E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito." (Romanos 8:28)
A cooperação de todas as providências para o bem daqueles que são de Cristo. Pode-se objetar que, apesar de todos esses privilégios, nós vemos crentes rodeados de diversas aflições; embora o Espírito interceda por eles, as suas tribulações continuam. Isso é realmente verdade; mas nesse caso também a intercessão do Espírito é sempre eficaz, no sentido de que, por mais que sejam afligidos, tudo está cooperando para o seu bem. Observe aqui:
1. O caráter dos santos que se beneficiam desse privilégio; eles são descritos aqui pelas qualidades que são comuns a todos os que são verdadeiramente santificados.
(1) Eles “...amam a Deus”. Isso inclui tudo que sai das afeições da alma para Deus como o bem supremo e o objetivo mais elevado. E o nosso amor a Deus que torna amável cada providência e, por isso, proveitosa. Aqueles que amam a Deus aproveitam ao máximo tudo que Ele faz, e aceitam tudo com boa vontade.
(2) Eles “...são chamados por seu decreto”, efetivamente chamados de acordo com o eterno decreto. O chamado é eficaz, não de acordo com qualquer mérito ou direito que tenhamos, mas de acordo com o decreto gracioso do próprio Deus.
2. O privilégio dos santos, “...que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus”, isto é, todas as providências de Deus que lhes dizem respeito. Tudo o que Deus realiza, é por eles que Ele realiza (SI 57.2). Os pecados deles não são realização dele, por isso não são aludidos aqui, embora sua permissão em relação ao pecado trabalhe pelo bem deles (2 Cr 32.31). Mas todas as providências de Deus são deles - providências compassivas, providências que angustiam, pessoais e públicas. Todas elas são para o bem; talvez para o bem temporal, como as tribulações de José; pelo menos, para o bem espiritual e eterno. E bom para eles o que faz bem para as suas almas. Seja direta ou indiretamente, cada providência tende ao bem espiritual daqueles que amam a Deus, separando-os do pecado, aproximando- os de Deus, afastando-os do mundo, tornando-os apropriados para o céu. Contribuem juntamente. Elas trabalham, como o médico sobre o corpo, de várias formas, de acordo com sua intenção, mas tudo para o bem do paciente. Contribuem juntamente, como vários ingredientes em um remédio concorrem para um resultado. Deus colocou um em oposição ao outro (Ec 7.14): synergei, um verbo no singular acompanhando um substantivo no plural, denotando a harmonia da Providência e seus desígnios uniformes, todas as rodas como uma roda (Ez 10.13). Ele operou todas as coisas juntamente para o bem, assim alguns lêem. Isso não vem de qualquer qualidade específica das próprias providências, mas do poder e da graça de Deus que trabalha em, com e através dessas providências. Tudo isso, nós sabemos - temos certeza, a partir da palavra de Deus, a partir de nossa própria experiência, e da experiência de todos os santos.
Comentário Bíblico do Novo Testamento de Atos a Apocalipse - Matthew Henry
domingo, julho 20, 2014
Exposição de Efésios 1:4 - William Hendriksen
4. Paulo prossegue: "assim como nos elegeu nele antes da fundação
do mundo."
A Eleição
(1) Seu Autor
O Autor é “o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo”, como já indicamos
(ver exposição do v. 3). Certamente que isso de modo algum invalida
o fato de que todas as atividades que afetam as relações extratrinitárias
podem ser atribuídas ao Pai, Filho e Espírito Santo. Não
obstante, conforme demonstrado aqui, é o Pai que tem a liderança na
obra divina da eleição.
(2) Sua Natureza
Eleger significa tomar ou escolher algo de (para si mesmo). Embora
a passagem mesma não indique de forma definida a massa de objetos
ou indivíduos dentre os quais o Pai elegeu alguns, não obstante
esse imenso grupo fica claramente definido pela cláusula que denota propósito:
“para que fôssemos santos e irrepreensíveis perante ele.”
Conseqüentemente, a imensa massa de indivíduos, dentre os quais o Pai
elegeu alguns, é aqui vista como destituída de santidade e desprezível.
Esta interpretação se ajusta ao contexto. Ela supre uma das razões (ver
Síntese no final do capítulo para mais razões) por que a alma do apóstolo
está saturada de tal arrebatamento, que ele diz: “Bendito (seja) o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que ... nos elegeu.” Ele nem tenta
explicar como foi possível Deus fazer isso. Apenas compreende que,
quando os homens são confrontados com a manifestação da espantosa
graça divina, a única resposta justificável é adoração, e não explicação.
(3) Seu Objeto
O objeto somos “nós”, não a humanidade toda. O pronome “nos”
deve ser entendido à luz de seu contexto. Paulo está escrevendo “aos
santos e crentes” (v. 1). Ele diz que o Pai “nos” tem abençoado, isto é,
“aos santos e crentes” (aqui com especial referência aos de Éfeso),
inclusive Paulo (v. 3). Portanto, quando o apóstolo prossegue, dizendo:
“assim como nos elegeu”, este “nos” não pode repentinamente referir-
se a todos os homens sem distinção, senão que deve referir-se
necessariamente a todos aqueles que são (ou que foram destinados para
que em algum tempo da história do mundo se tornassem) “santos e
crentes”, ou seja, a todos os que, tendo sido separados pelo Senhor
com o propósito de glorificá-lo, o abracem por meio de uma fé viva.
É por esta razão contextual (e também por outras) que não posso
concordar com a argumentação de Karl Barth, de que em conexão com
Cristo todos os homens, sem distinção, são eleitos, e que a distinção
básica não é entre eleitos e não-eleitos, e sim entre os que têm consciência
de sua eleição e os que não a têm.
(4) Seu Fundamento
O fundamento da igreja, de sua plena salvação do princípio ao fim,
conseqüentemente também de sua eleição, é Cristo. Paulo diz: “Ele
(‘o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo’) nos elegeu nele.” A
conexão entre os versículos 3 e 4 depende dessa frase. Poderíamos
trazer essa idéia a lume com a seguinte tradução: “Deus o Pai nos
abençoou com toda bênção espiritual em Cristo, assim como nele nos
elegeu ....” Em outras palavras: no tempo, o Pai nos abençoou em
Cristo, assim como nos elegeu nele (em Cristo) desde toda a eternidade.
Embora alguns sustentem que “assim como” denote nada mais que
correspondência, no sentido de que existe perfeito acordo entre as
bênçãos e a eleição, visto que ambas são “em Cristo”, pode-se muito
bem perguntar se tal interpretação exaure o significado da palavra usada
no original.16 Além de um ponto de gramática (para a qual, ver a
nota 16), o ensino de Paulo é que a eleição desde a eternidade e os
passos subseqüentes na ordem da salvação não devem ser considerados
com detalhes independentes, mas, antes, como elos de uma corrente
de ouro, como em Romanos 8.29,30 nos faz ver mui claramente.
A eleição, pois, é a raiz de todas as bênçãos subseqüentes. É como
Jesus disse em sua oração na qualidade de Sumo Sacerdote: “... a fim
de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste” (17.2b). Ver
também João 6.37,39,44; 10.29. Em conseqüência, visto que a eleição
é desde a eternidade, que é o fundamento de todas as bênçãos subseqüentes,
e que além de tudo é “nele”, então Cristo não é apenas o
fundamento da Igreja, mas é seu Fundamento Eterno.
Agora vem à mente a pergunta: Como entender o fato de que é em
Cristo que os santos e crentes foram eleitos? A resposta freqüentemente
dada é a seguinte: foi determinado no conselho de Deus que em
algum ponto do tempo essas pessoas viriam a crer em Cristo. Ainda
que isso se acha sem dúvida também implícito, contudo não é resposta
suficiente e não faz justiça a tudo quanto Paulo e os demais escritores
inspirados ensinaram acerca deste importante ponto. A resposta básica
deve ser que desde antes da fundação do mundo Cristo foi o Representante
e Fiador de todos aqueles que, em alguma ocasião, seriam recolhidos
no redil. Isso foi necessário, porquanto a eleição não é uma anulação
de atributos divinos. Já ficou estabelecido que na tela de fundo
do decreto de Deus está o sinistro fato de que os eleitos são considera-
dos, desde o princípio, completamente indignos, envoltos em ruína e
perdição. Ora, o pecado deve ser castigado. As exigências da santa lei
de Deus precisam ser satisfeitas. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, através da eleição, não cancela sua justiça nem abole as exigências
de sua lei. Como pode, pois, ser possível que Deus outorgue uma
bênção tão imensa, tão gloriosa e tão fundamental, como é a bênção da
eleição, aos “filhos da ira”, sem ir de encontro à sua própria essência e à
inviolabilidade de sua santa lei? Responde-se que isso é possível devido
à promessa do Filho (em plena consonância com o Pai e o Espírito Santo):
“Eis aqui estou, no rol do livro está escrito a meu respeito; agradame
fazer tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está tua lei”
(Sl 40.7,8. Cf. Hb 10.5-7; Gl 4.4,5; Fp 2.6-8). Em Cristo, pois, os santos
e crentes, ainda que inicialmente e por natureza completamente indignos,
são justos aos próprios olhos de Deus, porquanto Cristo prometeu
que satisfaria todas as exigências da lei em lugar deles, promessa que
teve também completo cumprimento (Gl 3.13). Esta justiça forense é
fundamental para todas as demais bênçãos espirituais. Portanto,
“Somente a ti, ó Deus, se deve
Toda glória e renome;
Não ousamos tomar-te
Nem te privar de tua coroa.
Tu mesmo foste nosso Fiador
No plano da redenção divina;
Em ti sua graça nos foi concedida
Antes que o mundo começasse.”
(Augustus M. Toplady, 1774,
revisado por Dewey Westra, 1931)
(5) Seu Tempo
Diz-se que esta eleição ocorreu “antes da fundação do mundo”, ou
seja, “desde a eternidade”. Além disso, uma vez que ela ocorreu “nele”,
tudo se afigura de maneira razoável, porquanto ele é aquele cujo “precioso
sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mácula, conhecido,
com efeito, antes da fundação do mundo ...” (1Pe 1.19,20).17 A
imutabilidade do eterno plano de Deus relativa a seus eleitos não foi
uma invenção paulina. Foi o ensino do próprio Jesus. Foi ele quem
referiu aos que amou como aqueles que lhe foram dados (ver Jo 6.39;
17.2,9,11,24; cf. 6.44). O fato de haver prometido efetuar a expiação
por eles, desde toda a eternidade, pode muito bem ter sido um elemento
a entrar no amor do Pai por ele; conferir as palavras da oração sacerdotal:
“Pai, minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo
os que me deste, para que vejam minha glória que me conferiste,
porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.24). Nesta e
em passagens afins (ver também Mc 13.35 e Hb 4.3) o universo é visto
como um edifício, e sua criação é vista como a colocação do fundamento
desse edifício.
O ponto que deve ser enfatizado nesta conexão é que, se mesmo os
destinados à vida eterna já haviam sido eleitos, então toda a glória de
sua salvação pertence a Deus, e a ele só. Portanto, “Bendito (seja) o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!” Ver 2.5,8-10.
(6) Seu Propósito
O propósito da eleição se encontra nas palavras para que fôssemos
santos e irrepreensíveis perante ele. É digno de especial consideração
que Paulo não diz: “O Pai nos elegeu porque previu que iríamos
ser santos, etc. Ele diz: “para que (ou: a fim de que) fôssemos
santos”, etc. A eleição não foi condicionada pela previsão dos méritos
humanos, nem ainda pela previsão de sua fé. Ela é a raiz da salvação,
não seu fruto! Não obstante, também permanece verdadeiro que a responsabilidade
e auto-atividade do homem em nada se diminuem. Quando
o decreto divino para a salvação é historicamente efetuado na vida
de um indivíduo, isso não sucede através de coação externa. Ele motiva,
capacita, atua. Impele, porém não compele. A melhor descrição provavelmente
seja a que se acha em Os Cânones de Dort III e IV. 11,12.
“Além disso, quando Deus executa este seu beneplácito nos eleitos,
ou opera neles a verdadeira conversão, não só determina que o
evangelho lhes seja previamente pregado, e que se lhes ilumine poderosamente
suas mentes pelo Espírito Santo, a fim de que entendam e
discirnam corretamente as coisas que são do Espírito Santo, mas também,
pela eficácia do mesmo Espírito regenerador, permeia os recessos
mais íntimos do homem, abre o coração que está fechado, quebranta
o que está endurecido, circunda o que está incircunciso, infunde na
vontade novas qualidades, e faz que a vontade outrora morta seja vivificada,
a qual, em vez de má, é agora boa; que tinha má vontade, e que
agora tem boa vontade; que era rebelde, mas que agora é obediente; ele
agiliza e fortalece de tal maneira essa vontade para que seja capaz de
ser árvore boa e produza frutos de boas obras ... Assim a vontade, uma
vez renovada, não só é agilizada e movida por Deus, mas também, uma
vez dinamizada pelo Espírito, ela mesma se torna também ativa. Pelo
que se diz corretamente que o homem mesmo, em virtude da graça
recebida, crê e se arrepende.” (Ver Fp 2.12,13 e 2Ts 2.13.)
À luz do propósito já estabelecido, é evidente que a eleição não
conduz o homem apenas metade do caminho, e sim o conduz o caminho
todo. Não meramente o traz à conversão; na verdade, o traz à perfeição.
Propõe-se a fazê-lo santo – e nada menos que esta é a meta
consciente daqueles em cujos corações Deus já começou a operar seu
plano de eterna eleição. E sua meta começa nesta presente vida (Lv
19.2), chegando à sua total e final realização no porvir (Mt 6.10; Ap
21.27).
A perfeição absoluta e imutável da meta ética recebe uma ênfase
adicional através da frase “diante dele”, ou seja, diante de Deus em
Cristo. O que se deve levar mais em conta não é o que somos pela
avaliação dos homens, e sim o que somos aos olhos de Deus.
Livro Comentários do Novo Testamento - William Hendriksen - Pág. 89-94
do mundo."
A Eleição
(1) Seu Autor
O Autor é “o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo”, como já indicamos
(ver exposição do v. 3). Certamente que isso de modo algum invalida
o fato de que todas as atividades que afetam as relações extratrinitárias
podem ser atribuídas ao Pai, Filho e Espírito Santo. Não
obstante, conforme demonstrado aqui, é o Pai que tem a liderança na
obra divina da eleição.
(2) Sua Natureza
Eleger significa tomar ou escolher algo de (para si mesmo). Embora
a passagem mesma não indique de forma definida a massa de objetos
ou indivíduos dentre os quais o Pai elegeu alguns, não obstante
esse imenso grupo fica claramente definido pela cláusula que denota propósito:
“para que fôssemos santos e irrepreensíveis perante ele.”
Conseqüentemente, a imensa massa de indivíduos, dentre os quais o Pai
elegeu alguns, é aqui vista como destituída de santidade e desprezível.
Esta interpretação se ajusta ao contexto. Ela supre uma das razões (ver
Síntese no final do capítulo para mais razões) por que a alma do apóstolo
está saturada de tal arrebatamento, que ele diz: “Bendito (seja) o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que ... nos elegeu.” Ele nem tenta
explicar como foi possível Deus fazer isso. Apenas compreende que,
quando os homens são confrontados com a manifestação da espantosa
graça divina, a única resposta justificável é adoração, e não explicação.
(3) Seu Objeto
O objeto somos “nós”, não a humanidade toda. O pronome “nos”
deve ser entendido à luz de seu contexto. Paulo está escrevendo “aos
santos e crentes” (v. 1). Ele diz que o Pai “nos” tem abençoado, isto é,
“aos santos e crentes” (aqui com especial referência aos de Éfeso),
inclusive Paulo (v. 3). Portanto, quando o apóstolo prossegue, dizendo:
“assim como nos elegeu”, este “nos” não pode repentinamente referir-
se a todos os homens sem distinção, senão que deve referir-se
necessariamente a todos aqueles que são (ou que foram destinados para
que em algum tempo da história do mundo se tornassem) “santos e
crentes”, ou seja, a todos os que, tendo sido separados pelo Senhor
com o propósito de glorificá-lo, o abracem por meio de uma fé viva.
É por esta razão contextual (e também por outras) que não posso
concordar com a argumentação de Karl Barth, de que em conexão com
Cristo todos os homens, sem distinção, são eleitos, e que a distinção
básica não é entre eleitos e não-eleitos, e sim entre os que têm consciência
de sua eleição e os que não a têm.
(4) Seu Fundamento
O fundamento da igreja, de sua plena salvação do princípio ao fim,
conseqüentemente também de sua eleição, é Cristo. Paulo diz: “Ele
(‘o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo’) nos elegeu nele.” A
conexão entre os versículos 3 e 4 depende dessa frase. Poderíamos
trazer essa idéia a lume com a seguinte tradução: “Deus o Pai nos
abençoou com toda bênção espiritual em Cristo, assim como nele nos
elegeu ....” Em outras palavras: no tempo, o Pai nos abençoou em
Cristo, assim como nos elegeu nele (em Cristo) desde toda a eternidade.
Embora alguns sustentem que “assim como” denote nada mais que
correspondência, no sentido de que existe perfeito acordo entre as
bênçãos e a eleição, visto que ambas são “em Cristo”, pode-se muito
bem perguntar se tal interpretação exaure o significado da palavra usada
no original.16 Além de um ponto de gramática (para a qual, ver a
nota 16), o ensino de Paulo é que a eleição desde a eternidade e os
passos subseqüentes na ordem da salvação não devem ser considerados
com detalhes independentes, mas, antes, como elos de uma corrente
de ouro, como em Romanos 8.29,30 nos faz ver mui claramente.
A eleição, pois, é a raiz de todas as bênçãos subseqüentes. É como
Jesus disse em sua oração na qualidade de Sumo Sacerdote: “... a fim
de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste” (17.2b). Ver
também João 6.37,39,44; 10.29. Em conseqüência, visto que a eleição
é desde a eternidade, que é o fundamento de todas as bênçãos subseqüentes,
e que além de tudo é “nele”, então Cristo não é apenas o
fundamento da Igreja, mas é seu Fundamento Eterno.
Agora vem à mente a pergunta: Como entender o fato de que é em
Cristo que os santos e crentes foram eleitos? A resposta freqüentemente
dada é a seguinte: foi determinado no conselho de Deus que em
algum ponto do tempo essas pessoas viriam a crer em Cristo. Ainda
que isso se acha sem dúvida também implícito, contudo não é resposta
suficiente e não faz justiça a tudo quanto Paulo e os demais escritores
inspirados ensinaram acerca deste importante ponto. A resposta básica
deve ser que desde antes da fundação do mundo Cristo foi o Representante
e Fiador de todos aqueles que, em alguma ocasião, seriam recolhidos
no redil. Isso foi necessário, porquanto a eleição não é uma anulação
de atributos divinos. Já ficou estabelecido que na tela de fundo
do decreto de Deus está o sinistro fato de que os eleitos são considera-
dos, desde o princípio, completamente indignos, envoltos em ruína e
perdição. Ora, o pecado deve ser castigado. As exigências da santa lei
de Deus precisam ser satisfeitas. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, através da eleição, não cancela sua justiça nem abole as exigências
de sua lei. Como pode, pois, ser possível que Deus outorgue uma
bênção tão imensa, tão gloriosa e tão fundamental, como é a bênção da
eleição, aos “filhos da ira”, sem ir de encontro à sua própria essência e à
inviolabilidade de sua santa lei? Responde-se que isso é possível devido
à promessa do Filho (em plena consonância com o Pai e o Espírito Santo):
“Eis aqui estou, no rol do livro está escrito a meu respeito; agradame
fazer tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está tua lei”
(Sl 40.7,8. Cf. Hb 10.5-7; Gl 4.4,5; Fp 2.6-8). Em Cristo, pois, os santos
e crentes, ainda que inicialmente e por natureza completamente indignos,
são justos aos próprios olhos de Deus, porquanto Cristo prometeu
que satisfaria todas as exigências da lei em lugar deles, promessa que
teve também completo cumprimento (Gl 3.13). Esta justiça forense é
fundamental para todas as demais bênçãos espirituais. Portanto,
“Somente a ti, ó Deus, se deve
Toda glória e renome;
Não ousamos tomar-te
Nem te privar de tua coroa.
Tu mesmo foste nosso Fiador
No plano da redenção divina;
Em ti sua graça nos foi concedida
Antes que o mundo começasse.”
(Augustus M. Toplady, 1774,
revisado por Dewey Westra, 1931)
(5) Seu Tempo
Diz-se que esta eleição ocorreu “antes da fundação do mundo”, ou
seja, “desde a eternidade”. Além disso, uma vez que ela ocorreu “nele”,
tudo se afigura de maneira razoável, porquanto ele é aquele cujo “precioso
sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mácula, conhecido,
com efeito, antes da fundação do mundo ...” (1Pe 1.19,20).17 A
imutabilidade do eterno plano de Deus relativa a seus eleitos não foi
uma invenção paulina. Foi o ensino do próprio Jesus. Foi ele quem
referiu aos que amou como aqueles que lhe foram dados (ver Jo 6.39;
17.2,9,11,24; cf. 6.44). O fato de haver prometido efetuar a expiação
por eles, desde toda a eternidade, pode muito bem ter sido um elemento
a entrar no amor do Pai por ele; conferir as palavras da oração sacerdotal:
“Pai, minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo
os que me deste, para que vejam minha glória que me conferiste,
porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.24). Nesta e
em passagens afins (ver também Mc 13.35 e Hb 4.3) o universo é visto
como um edifício, e sua criação é vista como a colocação do fundamento
desse edifício.
O ponto que deve ser enfatizado nesta conexão é que, se mesmo os
destinados à vida eterna já haviam sido eleitos, então toda a glória de
sua salvação pertence a Deus, e a ele só. Portanto, “Bendito (seja) o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!” Ver 2.5,8-10.
(6) Seu Propósito
O propósito da eleição se encontra nas palavras para que fôssemos
santos e irrepreensíveis perante ele. É digno de especial consideração
que Paulo não diz: “O Pai nos elegeu porque previu que iríamos
ser santos, etc. Ele diz: “para que (ou: a fim de que) fôssemos
santos”, etc. A eleição não foi condicionada pela previsão dos méritos
humanos, nem ainda pela previsão de sua fé. Ela é a raiz da salvação,
não seu fruto! Não obstante, também permanece verdadeiro que a responsabilidade
e auto-atividade do homem em nada se diminuem. Quando
o decreto divino para a salvação é historicamente efetuado na vida
de um indivíduo, isso não sucede através de coação externa. Ele motiva,
capacita, atua. Impele, porém não compele. A melhor descrição provavelmente
seja a que se acha em Os Cânones de Dort III e IV. 11,12.
“Além disso, quando Deus executa este seu beneplácito nos eleitos,
ou opera neles a verdadeira conversão, não só determina que o
evangelho lhes seja previamente pregado, e que se lhes ilumine poderosamente
suas mentes pelo Espírito Santo, a fim de que entendam e
discirnam corretamente as coisas que são do Espírito Santo, mas também,
pela eficácia do mesmo Espírito regenerador, permeia os recessos
mais íntimos do homem, abre o coração que está fechado, quebranta
o que está endurecido, circunda o que está incircunciso, infunde na
vontade novas qualidades, e faz que a vontade outrora morta seja vivificada,
a qual, em vez de má, é agora boa; que tinha má vontade, e que
agora tem boa vontade; que era rebelde, mas que agora é obediente; ele
agiliza e fortalece de tal maneira essa vontade para que seja capaz de
ser árvore boa e produza frutos de boas obras ... Assim a vontade, uma
vez renovada, não só é agilizada e movida por Deus, mas também, uma
vez dinamizada pelo Espírito, ela mesma se torna também ativa. Pelo
que se diz corretamente que o homem mesmo, em virtude da graça
recebida, crê e se arrepende.” (Ver Fp 2.12,13 e 2Ts 2.13.)
À luz do propósito já estabelecido, é evidente que a eleição não
conduz o homem apenas metade do caminho, e sim o conduz o caminho
todo. Não meramente o traz à conversão; na verdade, o traz à perfeição.
Propõe-se a fazê-lo santo – e nada menos que esta é a meta
consciente daqueles em cujos corações Deus já começou a operar seu
plano de eterna eleição. E sua meta começa nesta presente vida (Lv
19.2), chegando à sua total e final realização no porvir (Mt 6.10; Ap
21.27).
A perfeição absoluta e imutável da meta ética recebe uma ênfase
adicional através da frase “diante dele”, ou seja, diante de Deus em
Cristo. O que se deve levar mais em conta não é o que somos pela
avaliação dos homens, e sim o que somos aos olhos de Deus.
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