domingo, outubro 12, 2014

sábado, outubro 11, 2014

O Significado de "Kosmos" em João 3:16




A. W. Pink

Pode parecer para alguns de nossos leitores que a exposição que demos de João 3:16 no capítulo sobre “Dificuldades e Objeções” é forçada e não natural, na medida em que nossa definição do termo “mundo” parece estar fora de harmonia com o significado e escopo desta palavra em outras passagens, onde, fornecer o mundo de crentes (os eleitos de Deus) como uma definição de “mundo” parece não fazer sentido. Muitos têm nos dito: “Certamente, ‘mundo’ significa mundo, isto é, você, eu, e cada pessoa”. Em resposta dizemos: Nós sabemos por experiência quão difícil é pôr de lado as “tradições de homens” e chegar a uma passagem que temos ouvido explanada de um certo modo muitas vezes, e nós mesmos estudá-la cuidadosamente sem preconceito. Todavia, isto é essencial se desejarmos aprender a mente de Deus.

Muitas pessoas supõem que elas já conhecem o simples significado de João 3:16 e, portanto, concluem que nenhum estudo diligente é requerido delas para descobrir o ensino preciso deste verso. É desnecessário dizer, que tal atitude impede a entrada de qualquer luz adicional que de outra forma eles poderiam obter sobre a passagem. Além disso, se alguém pegar uma Concordância e ler cuidadosamente as várias passagens nas quais o termo “mundo” (como uma tradução de “kosmos”) ocorre, ela rapidamente perceberá que para se averiguar o preciso significado da palavra “mundo” em qualquer passagem, não será nem um pouco fácil como é popularmente suposto. A palavra “kosmos”, e seu equivalente em português “mundo”, não é usada com um significado uniforme no Novo Testamento. Extremamente longe disso. Ela é usada em um número de formas absolutamente diferentes. Abaixo nos referiremos a algumas poucas passagens onde este termo ocorre, sugerindo uma tentativa de definição em cada caso:

"Kosmos" é usado para definir o Universo como um todo: Atos 17:24 – “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra”.

"Kosmos" é usado para definir a terra: João 13:1; Efésios 1:4, etc., etc.- "Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. “Passar destemundo” significa, deixar esta terra. “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo”, Esta expressão significa, antes da terra ser fundada – compare Jó 38:4, etc.

"Kosmos" é usado para definir o sistema mundial: João 12:31, etc. “Agora, é o juízo deste mundo; agora, será expulso o príncipe destemundo” – compare Mateus 4:8 e 1 João 5:19.

"Kosmos" é usado para definir toda a raça humana: Romanos 3:19, etc. – “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus”.

"Kosmos" é usado para definir a humanidade menos os crentes: João 15:18, Romanos 3:6. “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim”. Os crentes não “odeiam” a Cristo, de forma que “o mundo” aqui deve significar o mundo de descrentes em contraste com os crentes que amam a Cristo. “De maneira nenhuma! Doutro modo, como julgará Deus o mundo?”. Aqui é outra passagem onde “o mundo” não pode significar “você, eu, e cada pessoa”, porque os crentes não serão “julgados” por Deus, ver João 5:24. De forma que aqui, também, deve ser o mundo de descrentes que está em vista.

"Kosmos" é usado para definir os Gentios em contraste com os Judeus: Romanos 11:12, etc. “E, se a sua (Israel) queda é a riqueza domundo, e a sua (Israel) diminuição, a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude (de Israel) !”. Note como a primeira cláusula em negrito é definida pela última cláusula colocada em negrito. Aqui, novamente, “o mundo” não pode significar toda a humanidade porque ele exclui Israel!

"Kosmos" é usado para definir somente os crentes: João 1:29; 3:16,17; 6:33; 12:47; 1 Coríntios 4:9; 2 Coríntios 5:19. Nós deixaremos nossos leitores se voltarem para estas passagens, pedido-lhes notar, cuidadosamente, exatamente o que é dito e relacionado com “o mundo” em cada lugar.

Assim, pode ser visto que “kosmos” tem pelo menos sete significados diferentes claramente definidos no Novo Testamento. Pode ser perguntado: Deus tem usado então uma palavra assim para confundir e embaraçar aqueles que lêem as Escrituras? Nós respondemos: Não! nem tem Ele escrito Sua Palavra para pessoas preguiçosas que são tão negligentes, ou tão ocupadas com as coisas deste mundo, ou, como Marta, tão ocupadas em “servir”, que não têm tempo e nem coração para “examinar” e “estudar” as Escrituras Sagradas! Poderia ser ainda perguntado: Mas como é que um examinador das Escrituras sabe qual dos significados acima o termo “mundo” tem em alguma determinada passagem? A resposta é: Isto pode ser averiguado por um estudo cuidadoso do contexto, diligentemente notando qual é a relação de “o mundo” em cada passagem, e em total oração consultando outras passagens paralelas àquela que está sendo estudada. O principal assunto de João 3:16 é Cristo como o Dom de Deus. A primeira cláusula nos diz que Deus foi movido a “dar” Seu Filho unigênito, e isto por Seu grande “amor”; a segunda cláusula nos informa para quem Deus “deu” Seu Filho, e é para “todo aquele (ou, melhor, ‘cada um’) que crê”; enquanto a última cláusula faz conhecido porque Deus “deu” Seu Filho (Seu propósito), e isto é para que todo aquele que crê “não pereça mas tenha a vida eterna”. Que “o mundo” em João 3:16 refere-se ao mundo de crentes (os eleitos de Deus), em distinção com “o mundo dos ímpios” (2 Pedro 2:5), é estabelecido, inequivocadamente estabelecido, por uma comparação com outras passagens que falam do “amor” de Deus. ”Mas Deus prova o seu amor para CONOSCO” – os santos, Romanos 5:8. ”Porque o Senhor corrige o que ama” – todo filho, Hebreus 12:6. “Nós o amamos porque ele NOS amou primeiro” – os crentes, 1 João 4:19. Do ímpio Deus tem “piedade” (ver Mateus 18:33). Para os ingratos e maus Ele é “bom” (ver Lucas 6:35). Os vasos de ira Deus suporta “com muita paciência” (ver Romanos 9:22). Mas “os Seus”, Deus “ama”!

Fonte: www.monergismo.net.br

quinta-feira, outubro 09, 2014

Uma Análise Bíblica Sobre o Significado de "Cristão Carnal"





O entendimento do processo da salvação [...] implica também que precisamos 
rejeitar o conceito ensinado por certos grupos evangélicos, isto é, o dos chamados 
"cristãos carnais". Esse conceito foi popularizado por muitos anos pela Scofield 
Reference Bible. Da New Scofield Reference Bible, publicada em 1967, selecionei a seguinte citação, encontrada numa nota de rodapé referente a 1 Coríntios 2.14:


"Paulo divide os homens em três classes: (1) psuchikos, que querdizer dos sentidos, sensuais (Tg 3.15: Jd 19), natural, isto é, ohomem adâmico, não regenerado pelo novo nascimento (Tg 3.3, 5);(2) pneumatikos, que significa espiritual, isto é, o homem renovadoe cheio do espírito, que anda no espírito em plena comunhão comDeus (Ef 5.18-20); e (3) sarkikos, que significa carnal, isto é, o homemrenovado que, por andar "segundo a carne", permanece uma criançaem Cristo (lCo 3.1-4). O homem natural pode ser instruído, gentil,eloquente, fascinante, mas o conteúdo espiritual da Escritura estátotalmente escondido dele; o cristão carnal pode compreender apenasas verdades mais simples, o 'leite' (1 Co 3.2)."

Segundo essa nota, observamos que o "homem carnal" é alguém que,
ainda que esteja em Cristo e tenha sido renovado, anda "segundo a carne".
O conceito do "cristão carnal" foi também ativamente promovido pelo
movimento cristão interdenominacional chamado Campus Crusade for Christ
[Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo]. Os diagramas a seguir
foram tirados do Lay Trainees Manual [Manual de Treinamento de Leigos]
publicado pela Campus Crusade. Os diagramas são precedidos por estas
palavras dirigidas à pessoa em treinamento:

Explique [ao novo convertido] que, depois de ter convidado Cristo
a entrar em sua vida, é possível que ele venha a controlar de novo o
trono de sua vida. A passagem do Novo Testamento, 1 Coríntios
2.14-3.3, identifica três tipos de pessoas.

Observe que o "homem carnal" é chamado de "cristão que não está
confiando em Deus". Note também que os diagramas sobre o "homem natural"
e sobre o "homem carnal" são iguais, exceto que no primeiro a cruz, que
representa Cristo, está do lado de fora do círculo da vida da pessoa, e no
último a cruz está dentro do círculo. A clara implicação desses diagramas é
que "cristãos carnais", ainda que tenham aceitado a Cristo em algum sentido
como Salvador, são pessoas que vivem exatamente da mesma maneira
como viviam antes da conversão. 



























Esse ensinamento sobre o "homem carnal", entretanto, precisa ser rejeitado,
porque descreve um tipo de cristão que a Bíblia não reconhece em
lugar algum. Na verdade, Paulo admite que há cristãos que são "crianças em
Cristo" (1 Co 3.1), e o autor de Hebreus escreve sobre crentes que precisam
pôr de lado "os princípios elementares da doutrina de Cristo" e deixar-se
conduzir à maturidade (Hb 6.1). Há, na verdade, níveis de maturidade entre os
cristãos, e todos os que estão em Cristo precisam constantemente prosseguir
com vigor na direção da perfeição. Mas o conceito do "cristão carnal" como
uma categoria separada de crentes não é apenas um engano, ele também é
pernicioso. Levantamos as seguintes objeções contra esse conceito:

(1) O conceito sugere que há dois tipos de cristão: o carnal e o espiritual.
Mas não há base bíblica para essa distinção. O Novo Testamento faz
distinção entre pessoas que nasceram de novo e aquelas que não (Jo 3.3,5),
entre aquelas que creem em Cristo e aquelas que não (Jo 3.36), entre aquelas
que "cogitam das coisas da carne" e aquelas que "se inclinam para o Espírito"
(Rm 8.5), e entre o "homem natural' e o "homem espiritual" (1 Co 2.14-15).
Contudo, jamais fala sobre uma terceira classe de pessoas chamadas "cristãos
carnais". Discutiremos, ainda neste capítulo, se a referência em
1 Coríntios 3 .1 e 3 sobre aqueles que são "ainda carnais" aponta para uma
classe distinta de cristãos.

(2) O conceito de "cristão carnal" implica a necessidade de um segundo
passo reconhecível além da conversão. Aparentemente, aceitar a Cristo e tornar-
se cristão não é suficiente; a transformação importante que precisa ocorrer
é a do segundo passo, o qual faz do convertido um "homem espiritual".
O que foi dito neste capítulo, criticando as soteriologias que ensinam a necessidade
de um segundo passo além da conversão, é aplicável também aqui.

(3) O conceito de "cristão carnal" sugere que alguém pode receber a
Cristo como Salvador sem recebê-lo como Senhor. Entre os grupos que aceitam
essa ideia, são feitos frequentes apelos aos "cristãos carnais" para que
ponham Jesus no trono de sua vida para fazê-lo Senhor! Isto feito, diz-se à
pessoa que ela não é mais um "cristão carnal". Mas esse ensino é estranho
ao Novo Testamento. Ninguém aceita a Cristo como Salvador sem aceitá-lo
como Senhor. Paulo disse aos coríntios: "Porque não nos pregamos a nós
mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos
servos, por amor de Jesus" (2Co 4.5). E aos colossenses ele escreveu: "Ora,
como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele" (Cl 2.6). Nós não
fazemos de Jesus, o Senhor; Deus o faz Senhor (At 2.36). É verdade, certamente,
que nós que estamos em Cristo nem sempre o seguimos como o
Senhor, e precisamos continuamente crescer em obediência a ele. Mas sugerir
que alguém possa ser cristão enquanto seu ego ainda estiver no trono de
sua vida é não compreender o ensino do Novo Testamento.

(4) O conceito do "cristão carnal" sugere que uma pessoa pode estar
andando e vivendo segundo a carne (ou segundo as tendências pecaminosas
que temos ainda dentro de nós) e, ainda assim, ser cristã. Lembremo-nos
de que a nota citada da Bíblia de Scofield descreve o "homem carnal" como
"o homem renovado que anda 'segundo a carne', mantendo-se criança em
Cristo". No livreto da Campus Crusade intitulado "Have You Made the
Wonderful Discovery ofthe Spirit-filled Life?" [Você já fez a maravilhosa
descoberta da vida cheia do Espírito?], uma das passagens da Escritura usada
para descrever o "cristão carnal", na página 6, é Romanos 8.7. O texto
diz: "Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está
sujeito à lei de Deus e nem mesmo pode estar". A pessoa descrita nessa
passagem não é um cristão "inferior", mas alguém que não é regenerado e
está sem Cristo. No verso 8 Paulo diz que aqueles descritos no verso 7 estão
"na carne" e, no verso 9, ele prossegue dizendo: "Vós [os cristãos romanos
aos quais ele estava escrevendo], porém, não estais na carne, mas no
Espírito". Adiante, em Gálatas 5.16, Paulo escreve: "Andai no Espírito e
jamais satisfareis a concupiscência da carne"; no verso 24 ele acrescenta:

"E os que estão em Cristo crucificaram a carne, com suas paixões e concupiscências".

Todos os crentes são ainda tentados pela carne e, algumas vezes,
guiados por ela. Mas o pensamento de que uma pessoa pode continuamente
andar ou viver na carne, ou "segundo a carne", e ainda ser considerada cristã
não está em concordância com a verdade bíblica.
Vamos prosseguir verificando se 1 Coríntios 3.1-3, a passagem na qual
a Bíblia de Scofield e os escritores do Campus Crusade baseiam seus ensinos
sobre o "cristão carnal", oferece fundamento para essa doutrina. A passagem
em questão diz:

1. "Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e
sim como a carnais, como a crianças em Cristo.
2. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda
não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois
carnais.
3. Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim
que sois carnais e andais segundo o homem?" (Grifos do autor.)

É verdade que Paulo, aqui, chama os coríntios, aos quais escreve, de
"carnais" (sarkinois, que quer dizer "os da carne" ou "mundanos"). A questão
é: está ele sugerindo uma terceira categoria na qual os cristãos podem
ser posicionados, além daquelas do "homem natural" (psychicos anthrõpos,
2.14) e do "homem espiritual" (pneumatikos, 2.15)? Não acredito. Minhas
razões são as seguintes:

(1) Paulo não diz que os coríntios não são espirituais; o que ele diz é
que não pode falar-lhes como a espirituais (v.1). Ele não está afirmando que
eles não eram colocados na classe das pessoas "espirituais" descritas em
2.15 nem está dizendo que eles pertencem à categoria dos homens "naturais"
descritos em 2.14. Observe, por exemplo, que ele começa o capítulo 3
chamando os coríntios de irmãos. Veja também em 6.19 que ele diz que o
corpo deles era templo do Espírito Santo, o qual estava neles - certamente
uma das marcas distintivas da pessoa "espiritual".

(2) Depois, Paulo escreve que teve de falar aos coríntios "como a carnais",
e acrescenta, "como a crianças em Cristo" (3.1). Estar "em Cristo"
não terá significado se não quiser dizer que alguém pertence à categoria
"espiritual", distinguindo-a das pessoas "naturais".45 Os coríntios, portanto,
estão verdadeiramente em Cristo, mas estão em Cristo como crianças - meros
meninos. Prosseguindo com a analogia, um bebê ou uma criança não é um
ser não humano em estado de imaturidade.

(3) O pensamento de que os coríntios eram imaturos, está declarado
adiante, no verso 3, em que Paulo diz: "Porque ainda sois carnais", implicando
que eles deviam crescer além do estado de infantilidade espiritual.

(4) O que, então, Paulo quer dizer quando chama seus leitores coríntios
de "carnais"? Ele diz que há ainda entre eles "ciúmes, divisões e contendas";
47 no verso 21 ele descreve o comportamento dos coríntios como "glorificando
homens". No capítulo 1 Paulo demonstrou o que estava acontecendo
na igreja de Corinto: "Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer:
Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo" (v. 12). Em
vez de formarem uma congregação unificada, servindo a Deus juntos em
amor cristão mútuo, os coríntios estavam desesperadamente divididos em
quatro facções querelantes e rixentas. Em vez de se gloriarem no fato de
pertencer a Cristo, se orgulhavam dos líderes que seguiam, desprezando
os companheiros que seguiam outros líderes humanos. Os coríntios, em
outras palavras, comportavam-se de forma "carnal". Andavam "segundo o
homem" (3.3) - que quer dizer: como homens não regenerados. Adiante,
no capítulo 3, Paulo procura corrigir tal falha de comportamento lembrando-
os das riquezas espirituais em Cristo: "Portanto, ninguém se glorie nos
homens, porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o
mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras,
tudo é vosso" (v. 21-22). Em vez de dizer "Nós somos de Paulo" ou
"Nós somos de Apolo'', vocês deveriam dizer: "Paulo, Apolo e Cefas, todos
pertencem a nós; eles não são nossos mestres, mas nossos servos em
Cristo; em vez de nos apoiarmos em um ou outro desses líderes humanos,
devemos aprender deles todos. Eles nos pertencem e nós pertencemos a
Cristo!". Se vocês compreenderem plenamente suas riquezas espirituais
em Cristo, Paulo diz, vocês vão parar com essas brigas sobre seus líderes
e deixarão esse estado de imaturidade e carnalidade.

A "carnalidade" dos coríntios, portanto, era sua imaturidade espiritual
- uma imaturidade que eles tinham de superar. Isso não implica que a
vida desses coríntios tinha o "eu" no trono, ou que eles estavam totalmente
escravizados pela carne. A "carnalidade", noutras palavras, é um problema
de comportamento.


(5) Paulo considera os coríntios, a despeito dos seus problemas de
comportamento, como pertencentes à categoria de pessoas "espirituais",
demonstrando isso nas seguintes declarações que faz sobre eles:


(a) Em !Coríntios 1.2, Paulo dirige-se a eles desta forma: "À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus". O verbo grego traduzido como "santificados" está no tempo perfeito - um tempo que retrata uma ação completa com continuação de resultados. Paulo descreve seus leitores coríntios como os que foram e ainda estão sendo definitivamente santificados. A santificação definitiva é um ato de Deus que ocorre num ponto no tempo e não ao longo do tempo.48 Certamente, uma declaração como essa não pode ser feita a respeito de pessoas que ainda são "naturais".


(b) Em 1.4, Paulo agradece a Deus pela graça que foi dada aos coríntios em Cristo - um comentário que não pode ser feito sobre pessoas meramente "naturais".


(c) Em 1.30, Paulo diz: "Mas vós sois dele [de Deus], em Cristo Jesus,o qual se nos tomou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". Ninguém pode dizer, portanto, que os coríntios eram apenas justificados e não santificados; o Cristo em quem eles existiam tomara-se agora sua justiça e sua santidade ou santificação.


(d) Em 3 .21-23, Paulo resume, de forma lírica, as riquezas que lhes pertencem em Cristo - riquezas que nenhuma pessoa "natural" pode possuir:"Porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus".


(e) Em 6.11, Paulo escreve: "Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus". Os verbos gregos estão aí todos no tempo aoristo, que geralmente retrata uma ação instantânea. Paulo declara outra vez que os coríntios, aos quais se dirige como "carnais" no capítulo 3, tinham sido santificados (no sentido definitivo) e justificados.


(f) Em 2Coríntios 5.17 Paulo faz ressoar a trombeta do chamado:"E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura". Na primeira epístola Paulo havia declarado expressamente que os coríntios estavam em Cristo;se estavam, então eram verdadeiramente nova criação ou novas criaturas.Na verdade, havia muito de errado com seu comportamento, e eles precisavam ser repreendidos, instruídos e encorajados a agir de melhor modo.Precisavam de um comportamento mais maduro, baseado num entendimento maior das riquezas em Cristo, e num exercício mais amplo de sua fé. Mas eram já novas criaturas em Cristo, e não podiam ser colocados em categoria diferente daquela das pessoas "espirituais".

O conceito de "cristãos carnais", ainda que precise ser rejeitado pelas
razões expostas, contém um importante elemento de verdade. A "carnalidade"
criticada por Paulo na vida dos coríntios constitui um perigo ao qual todo
cristão está exposto, e um tipo de comportamento no qual todo crente cai de
quando em quando. Precisamos estar sempre em guarda contra esses comportamentos.
Podemos ser, como os coríntios, tentados a exaltar líderes humanos
acima de Cristo. Somos constantemente seduzidos a nos entregar a
outras formas de "carnalidade": pensamentos de lascívia, ações impuras,
inveja, ciúme, orgulho, cobiça, glutonaria, ira pecaminosa e preguiça.
Segundo o Novo Testamento, a vida cristã é um contínuo conflito contra o
pecado: é descrito como uma batalha (Tg 4.1), um combate (1 Tm 6.12),
uma luta (Ef 6.12; Hb 12.4), um esmurrar do corpo (1 Co 9 .27), e uma resistência
ao diabo (Tg 4.7). Quando negamos a doutrina do "cristão carnal",
portanto, não pretendemos negar o perigo sempre presente de escorregar
nos caminhos carnais da vida.

No início deste capítulo foram dadas razões para rejeitarmos as
soteriologias de dois ou três estágios. A rejeição dessas soteriologias, porém,
não implica má vontade em reconhecer a necessidade de avanço e crescimento
na vida cristã. De fato, precisamos estar prontos a reconhecer que
muitos cristãos podem ter o que chamamos de "experiência de pico" ou
"experiência de cume" após a conversão.

Podemos citar o apóstolo Paulo como exemplo. Algum tempo depois
de sua conversão, ele pediu ao Senhor, por três vezes, que removesse dele
um doloroso "espinho na carne" (talvez algum tipo de aflição física).
O Senhor não removeu o espinho, mas revelou-lhe uma graça tão abundante
que Paulo foi habilitado a dizer: "De boa vontade, pois, mais me gloriarei
nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto
prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas
angústias, por amor de Cristo. Porque, quanto sou fraco, então, é que sou
forte" (2 Co 12.9-10). Certamente, esse foi um ponto alto na vida cristã de
Paulo depois da conversão.

Outro exemplo de "experiência de pico" de pós-conversão é encontrada
na vida de Blaise Pascal, cientista e pensador religioso francês que viveu
de 1623 a 1662. Ele teve o que pensou ser a sua primeira conversão ao
cristianismo em 1646. Oito anos depois, entretanto, ele experimentou uma
dramática "segunda conversão", descrita em seu Memorial. Essa segunda
conversão foi marcada pela total renúncia e submissão a Cristo.
Recentemente, ouvi sobre um homem de negócios cristão, que teve
um tempo duro lutando contra um câncer. Sabendo o quão perto estava da
morte, e vendo a si mesmo como um "tição tirado da fogueira", ele vendeu
seu negócio e começou a devotar todo seu tempo ao trabalho da igreja e das
organizações relacionadas à igreja. Um amigo meu, cristão há muito tempo,
foi levado a um compromisso maior com Cristo, a uma nova alegria no
Senhor, e a um ministério evangelístico mais ativo do que antes ao observar
seus companheiros cristãos cujo andar próximo de Deus o deixara com inveja.
Exemplos como esses podem ser facilmente multiplicados.
Não podemos programar tais experiências de pico de pós-conversão
dentro da "ordem da salvação" pelas razões que já expusemos. Não precisamos
insistir que cada cristão precisa de uma experiência desse tipo. Deus
não salva todos os seus filhos exatamente da mesma maneira. Mas, certamente,
precisamos deixar espaço na vida dos crentes para experiências
dessa natureza.

Deixe-me colocar isso de forma ainda mais incisiva. Crescimento espiritual
na vida de cristãos não é um luxo, mas uma necessidade. Esse crescimento
não precisa tomar a forma de crise ou experiência de pico, mas isso
pode acontecer. A Bíblia ensina isso claramente. Aos recém-convertidos,
Pedro escreve: "Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o
genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para
salvação" (1 Pe 2.2). No final da segunda epístola, Pedro ainda insiste na
necessidade de crescimento espiritual: "Antes, crescei na graça e no conhecimento
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2 Pe 3.18). E Paulo escreve
no mesmo tom: "Mas seguindo a verdade em amor, cresçamos em
tudo naquele que é a cabeça, Cristo" (Ef 4.15).

Reconhecendo, então, que os diversos aspectos do processo de salvação
não são passos sucessivos, mas, sim, simultâneos, precisamos sempre
nos lembrar da necessidade de continuar crescendo na direção de maior
compreensão e gozo da salvação. Alguém fez maior progresso na vida cristã
do que o apóstolo Paulo? Ainda assim, próximo do final dos seus dias na
terra, ele escreveu: "Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado;
mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando
para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio
da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3.13-14).

Fonte: Anthony A. Hoekema - Salvos Pela Graça - pags. 32-39

quarta-feira, outubro 08, 2014

O Que Significa Ungir Com Óleo o Doente?

O Que Significa Ungir Com Óleo o Doente?
Anthony A. Hoekema



Quando pensamos nos ensinamentos bíblicos sobre cura, Tiago 5.14-16,
uma passagem conhecida e muito citada, imediatamente aflora à mente:

"Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e
estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor.
E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se
houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. 
Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos 
outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo."

O tema principal dessa passagem não é a eficácia da unção com óleo,
mas o poder da oração - veja a sentença conclusiva e note o exemplo de
Elias nos versos 17-18. A situação que Tiago descreve é a da pessoa que está
obviamente "muito enferma para ir à igreja", e assim é instada a convidar os
presbíteros para virem à sua casa. Os "presbíteros da igreja" eram provavelmente
homens experimentados que exerciam o governo e algumas vezes,
ensinavam autoridade nessas primeira congregações (é comum pensar que a
epístola de Tiago foi escrita antes do ano 50 d.C.).

O que se requeria desses presbíteros nesse caso? Literalmente traduzido:
"deixem-nos orar sobre a pessoa, havendo-a esfregado com óleo em nome do
Senhor". As palavras traduzidas como "ungir com óleo" são traduzidas de
aleipsantes elaiõ. Há duas palavras neotestamentárias comumente traduzidas
como "ungir": aleiphõ (o tempo presente do verbo mencionado) e chriõ
(o verbo do qual o termo "Cristo" [o Ungido] se deriva). Chrio é um termo
mais sagrado ou religioso; é aplicado à unção de Cristo com o Santo Espírito
(Lc 4.18; At 4.27; 10.38; Hb 1.9) e à unção de cristãos pelo Senhor (2Co
1.21 ). Aleiphõ, porém, é um termo mais mundano ou secular. É usado para
descrever a aplicação de especiarias no corpo morto de Jesus (Mc 16.1) e se
referir à lavagem dos pés de Jesus (Lc 7.38, 46; Jo 11.2; 12.3). Na passagem
em questão a expressão significa "esfregar com óleo" e não "ungir com óleo".
Em tempos passados, as pessoas usavam azeite de oliva dessa maneira;
esfregar ou massagear o corpo com óleo era uma prática medicinal. Deve
ser lembrado que na parábola do Bom Samaritano nas feridas do homem foi
aplicado óleo e vinho (Lc 10.34). Ainda hoje no Oriente Médio, as pessoas
enfermas são massageadas com óleo e vinho.

A estrutura gramatical da sentença sugere a possibilidade de que os
presbíteros primeiro esfregariam o doente com óleo (provavelmente óleo de
oliva) e, então, orariam sobre ele (ou ela). A aplicação de óleo, porém, teria
propósitos medicinais. Tiago está dizendo que o ministério da igreja quanto
aos enfermos inclui o melhor tratamento médico que se possa encontrar.
A expressão que se segue no verso 14, "em nome do Senhor'', se aplica
à oração e ao uso do óleo. Essas palavras deixam subentendido que, quando
os presbíteros ministram ao doente, estão fazendo isso como representantes
do Senhor, pedindo ao Senhor a bênção sobre o tratamento médico e sobre a
oração. Como o nome do Senhor significa também sua revelação, precisamos
dizer algo mais a esse respeito. Segundo João 14.14, Jesus disse aos seus
discípulos: "Se pedirdes alguma cousa em meu nome, eu o farei". Orações
em nome de Cristo significam orações em harmonia com aquilo que
Cristo revelou sobre si mesmo, subentendendo "seja feita a tua vontade".
A oração pela cura que Tiago recomenda aqui traz consigo sempre a ressalva:
"Dá-nos esta cura, Senhor, se for da tua vontade".

Fonte: Anthony A. Hoekema - Salvos Pela Graça - pags. 48-49

segunda-feira, setembro 29, 2014

A Ira de Deus - Salmos 2:12

A Ira de Deus - Salmos 2:12
John A. Kohler






"Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se acender a sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nele confiam." (Salmos 2:12)

A ira de Deus pode ser definida como “a justa indignação, cólera ou vingança que Deus exercita contra o pecado”. Embora há mais coisas ditas na Bíblia sobre a ira de Deus do que sobre o Seu amor, poucos cristãos já ouviram muito sobre a ira de Deus.

A ira de Deus permanece sobre todos os incrédulos (João 3:36; Efésios 2:3). 

A ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens (Romanos 1:18).

A ira de Deus será derramada sobre aqueles que desprezam as riquezas da bondade, tolerância e longaminidade de Deus, sobre aqueles que têm corações duros e impenitentes, sobre aqueles que são contenciosos e obedecem à injustiça ao invés da verdade, e sobre aqueles que praticam o mal (Romanos 2:4-9)

A ira de Deus nunca será derramada sobre aqueles que foram justificados pelo sangue de Jesus Cristo (Romanos 5:9; I Tessalonicenses 1:10; 5:9).

A ira de Deus, para manifestar o poder de Deus, será derramada sobre os vasos de ira que foram preparados para destruição (Romanos 9:22).

A ira de Deus é perfeitamente justa e justificável, mas a ira dos seres humanos é injusta e injustificável (Romanos 12:19; Gálatas 5:19-21). 

A ira de Deus é executada contra os fazedores de mal pela agência do estado (Romanos 13:4-5).

A ira de Deus vem sobre os filhos da desobediência por praticarem engano com palavras vãs (Efésios 5:6).

A ira de Deus vem sobre os filhos da desobediência por cometerem fornicação, impureza, afeição desordenada, concupiscência e cobiça (Colossenses 3:5-6).

A ira de Deus caiu sobre os assassinos e perseguidores dos judeus (1 Tessalonicenses 2:14-16).

A ira de Deus será um dia a ira do Cordeiro, e ninguém será capaz de subsistir (Apocalipse 6:16-17).

A ira de Deus um dia destruirá aqueles que destroem a terra (Apocalipse 11:18).

A ira de Deus será derramada sem mistura sobre aqueles que adoram o Anticristo e sua imagem e receberam a marca da Besta (Apocalipse 14:8-10).

A ira de Deus será derramada sobre a grande Babilônia (Apocalipse 16:19; 18:2-3)



Paulo trata extensivamente com o futuro julgamento de Deus sobre um mundo incrédulo. Paulo usa o termo ‘ira’ (grego ‘orge’) para descrever o julgamento de Deus que descerá sobre o mundo. Este termo é decididamente um termo paulino, sendo usado vinte e uma vezes em seus escritos, enquanto que quinze vezes no restante do Novo Testamento. Paulo freqüentemente usa ‘orge’ para descrever um futuro ‘dia de ira’ (Romanos 2:5), que os obstinados e não-arrependidos enfrentarão. Paulo adverte que a ira de Deu virá sobre aqueles que são moralmente impuros (Efésios 5:6; Colossenses 3:6). Paulo, contudo, esforça-se ao máximo para mostrar que os crentes não enfrentarão a ira de Deus. Eles serão salvos daquele dia (Romanos 5:9; I Tessalonicenses 1:10; 5:9) — Paul Enns. 

Fonte: www.monergismo.net.br

sexta-feira, setembro 26, 2014

quinta-feira, setembro 25, 2014

Qual a Diferença Entre a Vontade Decretiva e Preceptiva de Deus?

Qual a Diferença Entre a Vontade Decretiva e Preceptiva de Deus?
R. C. Sproul



Neste vídeo, Sproul explica sobre a diferença entre a vontade decretiva e a vontade preceptiva de Deus:

quarta-feira, setembro 24, 2014

A soberania de Deus: "Meu Conselho Permanecerá de Pé, Farei Toda Minha Vontade"






Isaías 46:8-11,

Lembrai-vos disto e tende ânimo; tomai-o a sério, ó prevaricadores. 9 Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; 10 que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; 11 que chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei.

Uma das marcas teológicas mais fundamentais de todos os 30 anos da Bethlehem é a inestimável verdade da soberania de Deus. Vamos diretamente ao nosso texto a fim de não trazermos à luz nada que não venha da Palavra de Deus. Este assunto é de tamanha importância e toca em tantas realidades dolorosas, que nós não ousamos crer em nós mesmos para trazer alguma verdade que não seja dita pelo próprio Deus.
Em Isaías 46:9 Deus diz, "Eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim." Portanto, a questão neste texto é a singularidade de Deus dentre todos os seres do universo. Ele é o único ser de uma classe à parte. Nenhum outro é como ele. A questão é o que significa ser Deus. Quando algo está acontecendo, sendo dito ou pensado, e Deus responde, "Eu sou Deus!" (que é o que Ele faz no verso 9), o ponto é: Vocês estão agindo como se não soubessem o que significa Eu ser Deus.

O Que Significa Ser Deus

Então ele lhes diz o que é ser o primeiro e único Deus. Ele lhes diz o que está no centro da sua divindade. Verso 10: Para mim, ser Deus quer dizer que "desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam." Duas declarações: Primeira, Eu anuncio como as coisas sucederão muito antes que ocorram. Segunda, Eu anuncio não apenas os eventos naturais, mas também os humanos— feitos, coisas que ainda não foram realizadas. Verso 10: "Eu anuncio desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam." Eu sei que feitos serão estes muito antes que sejam realizados.
A esta altura você poderá dizer que o que temos aqui é a doutrina da presciência de Deus, e não a doutrina da sua soberania. E isto está correto até agora. No entanto, na próxima metade do versículo, Deus nos diz como ele conhece antecipadamente o fim e como ele conhece antecipadamente as coisas que ainda não foram realizadas. Verso 10b: "desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade." Quando ele "anuncia" antecipadamente o que haverá de acontecer, eis como ele o "anuncia", ou "diz": "digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade."
Em outras palavras, a forma como ele declara sua presciência é anunciando seu prévio conselho e seu prévio propósito. Quando Deus anuncia o fim muito antes que ele ocorra, o que ele diz é: "o meu conselho permanecerá de pé." E quando Deus anuncia coisas ainda não realizadas muito antes que aconteçam, o que ele diz é: "farei toda a minha vontade."
E isto significa que a razão pela qual Deus conhece o futuro é porque ele planeja o futuro e o realiza. O futuro é o conselho de Deus sendo estabelecido. O futuro é o propósito de Deus sendo cumprido por Deus. E então, o verso seguinte, verso 11b, nos dá uma clara confirmação de que isto é o que ele quer dizer: "Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei." Em outras palavras, a razão pela qual minhas predições se realizam é porque elas são o meu propósito, e porque Eu mesmo as realizo.

Deus Tem Propósitos Para Todas as Coisas

Deus não é um adivinho, vidente, ou mero prognosticador. Ele não tem uma bola de cristal. Ele sabe o que virá porque ele planeja o que virá e ele realiza aquilo que planeja. Verso 10b: 'meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade.' Ele não estabelece propósitos e fica imaginando se outra pessoa assumirá a responsabilidade de cumpri-los. "Farei toda a minha vontade."
Desta forma, com base neste texto, eis o que quero dizer quanto à soberania de Deus: Deus possui a legítima autoridade, a liberdade, a sabedoria e o poder para fazer acontecer tudo quanto ele pretende que aconteça. E, portanto, tudo que ele pretende que aconteça, de fato acontece. O que significa: Deus planeja e governa todas as coisas.
Quando ele diz, “Farei toda a minha vontade,” ele quer dizer, “Nada acontece fora do meu propósito.” Se algo acontecesse sem que Deus tivesse pretendido que acontecesse, ele diria, “Não foi isto que pretendi que acontecesse.” Então perguntaríamos, “O que o Senhor quis que acontecesse?” E ele diria, “Eu designei que esta outra coisa acontecesse, o que não ocorreu." Ao que nós responderíamos, então, "Mas o Senhor disse em Isaías 46:10, "Farei toda a minha vontade." E ele diria, "Está correto." Portanto, o que Deus quer dizer em Isaías 46:10 é que nada jamais aconteceu, ou acontecerá que Deus não tenha designado que acontecesse. Ou colocando de forma positiva: Tudo o que já aconteceu ou irá acontecer é designado por Deus para acontecer.
Agora, se isto pareceu um pouco complicado, façamos algo mais simples. Vamos confirmar esta visão a respeito da soberania de Deus olhando algumas outras passagens das Escrituras.

Uma Declaração Sobre a Soberania

Mas antes que façamos isto, deixe-me ler algo da Declaração de Fé dos Oficiais da Bethlehem Baptist Church para que você não pense que estou expressando apenas minhas opiniões pessoais. Estou simplesmente expressando e endossando uma doutrina à qual os oficiais desta igreja dão sua sincera asserção.
3.1 Nós cremos que Deus, desde a eternidade, para mostrar toda a extensão da sua glória para o regozijo eterno e crescente de todos os que o amam, ordenou e previu, pelo mais sábio e santo conselho de sua vontade, livremente e imutavelmente, tudo o que venha a acontecer.
3.2 Nós cremos que Deus sustenta e governa todas as coisas - desde galáxias até partículas subatômicas, das forças da natureza ao mover das nações, e dos planos públicos dos políticos até os atos secretos de pessoas solitárias - tudo de acordo com seus eternos e perfeitamente sábios propósitos de glorificar a si mesmo, porém, de forma que ele nunca peque, nem condene injustamente uma pessoa; mas que o seu ordenar e governar todas as coisas seja compatível com a responsabilidade moral de todas as pessoas que ele criou à sua imagem.
3.3 Nós cremos que a eleição de Deus é um ato incondicional de livre graça, que foi outorgado através de seu Filho Jesus Cristo antes que o mundo fosse formado. Por meio deste ato, Deus escolheu, antes da fundação do mundo, aqueles que seriam libertos da escravidão do pecado e trazidos ao arrependimento e fé salvadora em seu Filho Jesus Cristo.
Então, é desta forma que a soberania de Deus é expressa em nossa Declaração de Fé dos Oficiais. Agora, considere comigo o alcance do suporte disto na Bíblia, e então, algumas implicações finais, e o motivo pelo qual isto nos é tão precioso.

Encarando Uma Questão Crucial

Quando eu acabar, você deverá estar completamente dominado pela extensão da soberania de Deus — eu, pelo menos, estou. E nós vamos encarar uma escolha: será que deixaremos nossas objeções, e louvaremos sua graça e poder, e nos curvaremos com grata submissão à absoluta soberania de Deus? Ou endureceremos a cerviz e o resistiremos? Será que veremos na soberania de Deus nossa única esperança para a vida em nosso desalento, nossa única esperança de resposta às nossas orações, nossa única esperança de sucesso no evangelismo, nossa única esperança de significado em nosso sofrimento? Ou insistiremos que existe uma esperança melhor, ou nenhuma esperança? Esta é a questão que vamos encarar.
Que seja dito em alto e bom som que nada do que você ouvirá agora, por mais paradoxal que possa parecer às nossas mentes finitas, contradiz a verdadeira responsabilidade moral que humanos, anjos e demônios tem de fazer o que Deus ordena. Deus nos deu vontade. Como a usamos é que faz a diferença eterna.
Vamos dividir a soberania de Deus em seu governo sobre os eventos naturais de um lado, e os eventos humanos, de outro. No primeiro caso, ele está governando processos físicos. E, no segundo, está governando decisões humanas.

A Soberania de Deus Sobre a Natureza

Ele é soberano sobre o que parece ser mais aleatório neste mundo. Provérbios 16:33, "​A sorte se lança no regaço, mas do SENHOR procede toda decisão." Em linguagem atual nós diríamos, "Os dados rolam sobre a mesa e cada jogada é decidida por Deus." Não há eventos pequenos demais que ele não governe para os seus propósitos. "​Não se vendem dois pardais por um asse?", disse Jesus, "E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados" (Mateus 10:29-30). Cada jogada de dados em Las Vegas, cada passarinho que cai morto nas milhares de florestas — tudo isto são ordens de Deus.
Dos vermes no solo às estrelas das galáxias, Deus governa o mundo natural. No livro de Jonas, Deus ordena que um peixe engula (1:17), Deus ordena que uma planta cresça (4:6), e ordena que um verme a extermine (4:7). E muito acima das vidas dos vermes, as estrelas tomam seus lugares e lá se mantém ao comando de Deus. Isaías 40:26, "​Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar."
Quanto mais, então, os eventos naturais deste mundo — desde o clima até os desastres, as doenças, as deficiências e à morte.
Salmo 147:15 em diante, "Ele envia as suas ordens à terra, e sua palavra corre velozmente; dá a neve como lã e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas; quem resiste ao seu frio? Manda a sua palavra e o derrete; faz soprar o vento, e as águas correm." Jó 37:11-13, "Também de umidade carrega as densas nuvens, nuvens que espargem os relâmpagos. Então, elas, segundo o rumo que ele dá, se espalham para uma e outra direção, para fazerem tudo o que lhes ordena sobre a redondeza da terra. E tudo isso faz ele vir para disciplina, se convém à terra, ou para exercer a sua misericórdia."

Os Ventos Poderiam Ter Cessado

Sendo assim, a neve, a chuva, o frio, o calor e o vento são todos obras de Deus. Então quando Jesus se encontra no meio de uma furiosa tempestade, ele simplesmente diz, "Cala-te, aquieta-te!" O vento se aquietou, e fez-se grande bonança (Marcos 4:39). Não há vento, nem tempestade, nem furação, nem ciclone, nem tufão, nem monções, nem tornados sobre os quais Jesus possa dizer "Aquieta-te", que não o obedeçam. Significa, então, que se eles ocorrem, ele assim deseja que aconteça. "Sucederá algum mal à cidade, sem que o SENHOR o tenha feito?" (Amós 3:6). Tudo o que Jesus precisaria ter feito com o furacão Sandy na semana passada era ter dito, "Aquieta-te", e não haveria dano algum e nenhuma vida teria se perdido.
E quanto aos outros sofrimentos desta vida? "Respondeu o Senhor a Moisés: Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o SENHOR? (Êxodo 4:11). E Pedro disse aos santos em sofrimento na Ásia Menor, "​Os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem" (1 Pedro 4:19). "Se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal" (1 Pedro 3:17).
Quer soframos por alguma deficiência ou pelo mal feito por outras pessoas, Deus é quem decide, no final das contas — quer vivamos ou morramos. Deuteronômio 32:39, "Não há deus além de mim. Faço morrer e faço viver, feri e curarei, e ninguém é capaz de livrar-se da minha mão." Ou Tiago 4:13-15, "Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo." Ou como diz Jó, "Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR" (Jó 1:21).
O rolar dos dados, o cair de um pássaro, o rastejar de um verme, o caminhar das estrelas, o cair da neve, o soprar do vento, o perder a visão, o sofrer dos santos, e a morte de todos — tudo está contido na palavra de Deus: "Farei toda a minha vontade" — da menor à maior.

A Soberania de Deus Sobre as Ações Humanas

E quando nos voltamos do mundo natural para o mundo das ações e escolhas humanas, a soberania de Deus é igualmente ampla. Você deverá votar nas eleições — nos candidatos e suas propostas. Mas que não haja nenhuma ilusão de auto-engrandecimento humano como se simples seres humanos fossem o fator decisivo em qualquer vitória ou derrota. Somente Deus terá este papel essencial. "É ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; ... o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer" (Daniel 2:21;4:17).
E seja quem for o próximo presidente, ele não será soberano. Ele será governado. E nós deveríamos orar por ele para que ele soubesse disso: "Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu querer, o inclina" (Provérbios 21:1). E quando ele dedicar-se às relações diplomáticas, ele não será o decisor. Deus o será. "O SENHOR frustra os desígnios das nações e anula os intentos dos povos. O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações" (Salmo 33:10-11).
Quando as nações praticaram seu mal mais absoluto, especificamente o assassinato do Filho de Deus, Jesus Cristo, elas não fugiram ao controle de Deus, mas antes, estavam cumprindo seu mais terno comando em seu pior momento: "porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram" (Atos 4:27-28). O mais vil pecado que já se cometeu estava nos planos de Deus, e por meio daquele pecado, morreu o pecado.

O Gloriar-se Está Fora de Questão

E assim a nossa salvação foi obtida no Calvário sob a soberana mão de Deus. E se você é um crente em Jesus, se o ama, você é um milagre ambulante. Deus te concedeu arrependimento (2 Timóteo 2:24-25). Deus te trouxe até Cristo (João 6:44). Deus revelou o Filho de Deus a você (Mateus 11:27). Deus te deu o dom da fé. "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8-9). A soberania de Deus na nossa salvação exclui este gloriar-se.
Pode ter havido uma centena de coisas horríveis em sua vida. Mas se hoje você é levado a estimar Cristo como seu Senhor e Salvador, você poderá escrever por cima de cada um daqueles horrores as palavras de Gênesis 50:20: Satanás, "intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem."
Eu concluo, portanto, com as palavras de Paulo em Efésios 1:11, "Deus faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade." Todas as coisas — do rolar dos dados, ao movimento das estrelas, às ascensões dos presidentes, à morte de Jesus, aos dons do arrependimento e da fé.

Porquê a Soberania de Deus é Importante: Sete Exortações

O que, então, isto significa para nós? Por que isto nos é precioso? Eu responderei na forma de exortações:
  1. Então, que permaneçamos em temor à soberana autoridade, e liberdade, e sabedoria, e poder de Deus.
  2. E que nunca brinquemos com a vida como se ela fosse algo pequeno ou trivial.
  3. Que nos maravilhemos na nossa própria salvação — que Deus comprou e lapidou com poder soberano, e que nós não nos pertencemos.
  4. Que lamentemos acerca do desprezo para com Deus e do antropocentrismo de nossa cultura e de grande parte da igreja.
  5. Que sejamos confiantes diante do trono da graça, sabendo que nossas orações pelas coisas mais difíceis podem ser respondidas. Nada é demasiado difícil para Deus.
  6. Que nos regozijemos sabendo que nosso evangelismo não será em vão, porque não há pecador tão duro que a soberana graça de Deus não possa quebrantar.
  7. Que nos alegremos e nos aquietemos nestes dias tão turbulentos, pois a vitória pertence a Deus, e nenhum propósito que ele queira realizar pode ser impedido.

    By John Piper. ©2014 Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org

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