quinta-feira, setembro 04, 2014

Exposição de Filipenses 2:12-13

Exposição de Filipenses 2:12-13
William Hendrilksen




“Assim, pois, meus amados, como sempre obedeceram, não só em minha presença, mas muito mais agora em minha ausência, continuem desenvolvendo sua própria salvação com temor e com tremor. Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer quanto o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2:12-13)

A obediência dos filipenses não deve ser motivada pela presença de Paulo, nem durar só enquanto ele estiver em seu meio. Ao contrário, sua própria ausência deve imprimir-lhes a idéia de que agora mais do que nunca devem tomar a iniciativa. Especialmente agora devem se esforçar, porque devem contar com seus próprios recursos; sem dúvida não no que diz respeito a Deus, mas no que diz respeito a Paulo. Agora eles devem desenvolver “sua própria salvação”, ou seja, devem desenvolvê-la à parte da assistência de Paulo. Sim, eles devem desenvolvê-la, isto é, levá-la à sua conclusão, digeri-la plenamente e aplicá-la ao viver diário. Devem envidar todo esforço para produzir todos os frutos do Espírito (a lista completa de Gl 5.22,23). Devem almejar nada menos que a perfeição moral e espiritual. Não nos equivocamos ao afirmar que, em tal contexto, o tempo do verbo indica que Paulo tinha em mente a idéia de um esforço contínuo, vigoroso, estrêmuo: “Continuem a desenvolver.” Os crentes não são salvos de um só golpe (por assim dizer). Sua salvação é um processo (Lc 13.23; At 2.47; 2Co 2.15). É um processo no sentido em que eles mesmos, longe de permanecerem passivos ou inativos, tomam parte ativa. É um prosseguir, um seguir após, um avançar com determinação, uma contenda, uma luta, uma corrida (ver Fp 3.12; também Rm 14.18; 1Co 9.24-27; 1Tm 6.12).

Não é fácil manter um esforço tão constante e vigoroso. É uma batalha que se processa em três frentes, uma guerra contra a combinação tremendamente poderosa e astuta do mundo, do demônio e da carne. Significa fazer pleno uso de todo meio divinamente ordenado para vencer o mal e trazer à luz o bem que há neles (“neles”, porque Deus os colocou ali!).

Uma coisa é dizer: “Façam tudo para a glória de Deus”; e outra bem diferente é pôr isso em prática. Uma coisa é orar: “Assim como nós perdoamos nosso devedores”; outra muito mais difícil é perdoar realmente. Uma coisa é ostentar um cartaz bem escrito e belo: outra coisa é reconhecê-lo de fato como Cabeça, submetendo-lhe, em oração, todos os assuntos importantes e obedecendo a cada um de seus mandamentos. 

Uma coisa é asseverar piedosamente: “A soberania de Deus é o princípio fundamental da fé e prática”; muitíssimo difícil é submeter-se, confiadamente, a essa vontade soberana, quando um ente querido, paulatinamente, se definha e, finalmente, vem a falecer. E assim poderíamos continuar indefinidamente. De fato, a tarefa que aqui está posta sobre os ombros dos filipenses é tão difícil que, deixados ao sabor de seus próprios recursos, não poderão realizar como não o poderia o inválido descrito em João 5: levantar-se e andar. A este, todavia, Jesus manda: “Levante, tome seu leito e ande.” E, em substância, ele diz aos filipenses que considerem o desenvolvimento de sua própria salvação a tarefa de sua vida. Note bem: sua salvação, aqui, enfatiza aquele aspecto da salvação a que chamamos santificação.

Por ser esta tarefa algo tão vital, ela deve ser efetuada “com temor e tremor”. A importância desta frase faz que preceda o verbo que a modifica. Lemos: “Com temor e tremor, continuem a desenvolver sua própria salvação.”

“Com temor e tremor” (cf. 1Co 2.3; 2Co 7.15; Ef 6.5). Significado: NÃO no espírito de: indiferença, mente dividida (1Rs 18.21) desrespeito e desdém (At 17.18) confiança em si próprio (Mt 26.33) justiça própria (Lc 18.11) MAS, no espírito de: sinceridade, unidade de propósito (Sl 119.10,34) reverência e respeito, temor de ofender a Deus de qualquer maneira (Gn 39.9; Hb 12.28) confiança em Deus (2Cr 20.12) humildade (Lc 18.13)

(2) O Incentivo para Atenção

13. Tal temor e tremor não quer dizer desespero. É justamente o oposto disso. Paulo diz,  alentadoramente: “Vocês, filipenses, devem continuar a operar sua própria salvação, e vocês podem fazer isso, porque é Deus quem está operando em vocês.” Se não fosse o fato de Deus estar operando em vocês, filipenses, jamais estariam a desenvolver sua própria salvação. Ilustremos:

A torradeira não pode produzir pão torrado a menos que esteja “ligada” para que seus fios de nicromo estejam aquecidos pela corrente que os liga à central elétrica. O ferro elétrico é inútil a menos que seu plugue esteja acoplado à tomada. À noite não haverá luz na sala a menos que a eletricidade flua pelos fios de tungstênio para dentro da lâmpada, cada filamento mantendo contato com os cabos que vêm da fonte de energia. As rosas do jardim não podem alegrar o coração humano com sua beleza e fragrância a menos que extraiam sua virtude dos raios solares. Melhor ainda: “Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira; assim, nem vocês o podem dar, se não permanecerem em mim” (Jo 15.4).

Assim também aqui. Os filipenses só poderão operar sua própria salvação permanecendo num vivo e ativo contato com seu Deus. E é exatamente porque Deus começou boa obra neles – não são eles os “amados”? –, e porque Deus começou essa boa obra, também a levará à perfeição (Fp 1.6), os filipenses, como “cooperadores de Deus” (cf. 1Co 3.9), poderão levar essa salvação a sua conclusão. Não só o princípio, mas cada ponto do processo salvífico é de Deus (Jo 1.12; 15.5b; 1Co 15.10; Ef 2.8,10; Fp 1.6,28,29; 3.19,9,12; especialmente 4.13). Somos “feitura”, sua criação, seu “poema”. Ele nos fez o que somos. Por meio de seu Espírito operando nos corações de seu povo (Fp 1.19), aplicando-lhes os meios de graça e todas as experiências de vida, Deus é o Operador, grande, constante e efetivo, o Energizador, operando na vida dos filipenses, realizando neles tanto o querer quanto o realizar. Note bem: não só o executar, mas também o querer, isto é, o decidir e o desejar:

“Não foi porque eu te escolhi,
Porque, Senhor, isso seria impossível.
Este coração ainda te rejeitaria,
Caso não me tivesses escolhido.
Do pecado que me manchava
Me limpaste e me livraste;
Desde a eternidade me ordenaste
A fim de que para ti eu pudesse viver.”
(Josiah Conder)

O paralítico, cuja história se acha impressa em João 5, era incapaz de andar. Todavia, mediante a palavra de Jesus, ele se põe em pé, toma seu leito e começa a andar. O que não pode fazer pela própria força, ele pode, deve e faz, e isto na força do Senhor.

Quanto ao querer e ao realizar, os fatos são exatamente como se acham declarados em Os Cânones de Dort III e IV, artigos 11 e 12: “Ele infunde novas qualidades na vontade, e faz que essa vontade, outrora morta, reviva; sendo má, desobediente e rebelde, ele a faz boa, obediente e maleável; ele move e fortalece de tal maneira essa vontade que, qual boa árvore, passa a produzir frutos de boas ações ... A vontade, assim renovada, não só é movida e influenciada por Deus, mas, em decorrência dessa influência, se torna ativa." 

A maneira como Deus opera no coração de seu filho, habilitando o a querer e realizar, em lugar algum é mais belamente descrito do que em Efésios 3.14-19. O acréscimo que o apóstolo faz é muito confortador: segundo seu beneplácito. É por causa de e com vista à execução de seu beneplácito que Deus, como fonte infinita de energia espiritual e moral, faz que os crentes operem sua própria salvação. “Fá-los” – ainda que sem anular, de modo algum, sua própria responsabilidade e atividade. Note, além disso, o termo beneplácito. O Dr. H. Bavinck (em The Doctrine of God, tradução inglesa, p. 370) diz: “A graça e a salvação são os objetos do deleite divino; Deus, porém, não tem prazer no pecado nem se compraz na punição.” Esta declaração está em harmonia com a Escritura (Lm 3.33; Ez 18.23; 33.11; Os 11.8; Ef 1.5,7,9).

Fonte: Comentário Bíblicos de Filipenses - William Hendriksen - págs. 492-496

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