terça-feira, julho 28, 2015

Resposta a Uma Cristã Vítima de Estupro



Recebi o seguinte questionamento a respeito de uma cristã que foi estuprada recentemente. Quando escrevi a resposta, achei que poderia compartilhá-la com outras pessoas que sofrem, sem é claro, mencionar os nomes.
"Uma irmã amiga da minha esposa foi estuprada semana passada, e aí veio a famosa pergunta sobre a soberania de Deus. Por que Deus deixou isso acontecer ou permitiu esse fato trágico para essa cristã?"
Minha resposta: A respeito do assunto mencionado por você, posso dizer que ele se encaixa na velha pergunta feita pelos crentes desde o começo do mundo: se Deus é bom, por que deixa seus filhos sofrerem? Antes de tentar olhar para a resposta, é preciso mais uma vez lembrar que isso de fato acontece, ou seja, Deus permite que seus filhos sofram! Casos como esse, ou de crentes assassinados, ou que sofrem com um câncer, ou que perdem filhos, infelizmente são mais comuns do que gostamos de admitir. É claro que há circunstâncias na vida que, humanamente falando, poderiam ser evitadas. Por exemplo, um crente leva uma vida descontrolada em seu hábitos, então adquire uma doença que lhe traz muito sofrimento. Até mesmo um caso de estupro, às vezes, pode ser evitado quando a mulher não se expõe ao risco, quando não passa por lugares perigosos. Muitas vezes temos visto mulheres andando a noite por lugares que não deveriam andar... Mas todos sabemos que nem sempre isso é possível, e existem circunstâncias que simplesmente nos assolam, sem que possamos fugir, nos defender, ou evitar. Jó não poderia evitar a perda de seus bens, de sua família e de sua saúde. Paulo não poderia evitar as quarenta chibatadas menos uma que ele recebeu cinco vezes dos judeus, pois se tentasse evitar, estaria negando sua fé.
Infelizmente, por causa da doutrina triunfalista das igrejas brasileiras criou-se uma ideia de que Deus jamais deixará seus filhos passarem necessidades se eles forem fiéis, se entregarem direitinho o dízimo, se forem submissos aos seus líderes. Esses pobres crentes nem percebem que já estão sendo explorados, humilhados, destruídos, inabilitados a viver a plena vida cristã, antes mesmo de começar, por causa dos líderes que os enganam. Por outro lado, essa questão do sofrimento enlouqueceu tanto alguns pregadores atuais que eles preferiram dizer que Deus não tem nada a ver com isso, que ele nem mesmo conhece o futuro, por isso ele não sabe o que pode ou não acontecer com cada um, ainda que esteja ao lado de cada um, pronto a consolar e a seguir o caminho da dor… Sem dúvida, essa mensagem parece mais condizente com a realidade, porém nos deixa com um Deus em quem não podemos confiar, pois ele “não está lá em cima” cuidando de tudo. Ele está “aqui embaixo”, no mesmo barco que nós. E quem pode dizer onde esse barco chegará?
Por que Deus permite o sofrimento? Biblicamente é preciso pensar em duas razões. A primeira parte da queda, e a segunda da própria redenção. Quando o pecado entrou no mundo, Deus determinou dores para Eva e suor para Adão. Essa é a ordem natural da criação decaída. Por isso dói. E vai continuar doendo até que esse mundo seja renovado. Porém, alguém poderia dizer: mas Cristo nos redimiu! Por que ainda sofremos? Então, lembre-se que a redenção foi pelo maior ato de sofrimento que esse mundo já viu: a cruz. Paulo entendia que seus sofrimentos pessoais eram um modo de se conformar com o próprio Cristo que sofreu (Fp 3.10). Após ter sido apedrejado em Listra, o Apóstolo Paulo se levantou espantou a poeira, voltou à mesma cidade onde havia sido apedrejado, e apresentou-se aos estupefatos irmãos dizendo que eles deviam "permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14.22). As marcas das pedradas eram um testemunho e tanto nesse sentido. Fazendo eco a essas palavras, Pedro disse que, em alguns casos, pode ser “necessário" que sejamos contristados por várias provações (1Pe 1.6). E o próprio Pedro nos disse o motivo dessa necessidade: "para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo" (1Pe 1.7).
Portanto, a irmã que sofreu tal dolorosa e horrível ofensa, além é claro de procurar as autoridades para que, dentro do possível, tomem as providências, precisa acima de tudo buscar refúgio em Deus. Porém, não deve olhar para Deus como um tirano insensível que nada sabe a respeito de sofrimento, nem o imaginar um Deus frágil, que só pode sofrer ao nosso lado. Antes, precisa reconhecer que nos caminhos misteriosos de Deus, esse foi o terrível modo determinado a permitir que a fé seja mais preciosa que ouro. E todos que estão ao lado dela precisam lembrar que Deus é justo juiz, e não deixará sem punição o perverso.
Finalmente, eu termino com algumas palavras de Reinhold Niebuhr: “Nada que é perfeitamente digno pode ser feito nesta vida; então precisamos ser salvos pela esperança. Nada que é verdadeiro ou belo pode fazer completo sentido no imediato contexto da nossa história; então precisamos ser salvos por fé. Nada que nós fazemos, ainda que virtuoso, pode ser feito sozinho; então precisamos ser salvos pelo amor. Nenhum ato virtuoso é tão virtuoso do ponto de vista de nossos amigos ou inimigos, como do nosso próprio ponto de vista. Então, nós precisamos ser salvos por aquela forma final de amor, que é o perdão”.

Fonte: Página do Pr. Leandro Lima no Facebook.

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