quarta-feira, agosto 19, 2015

Quem São os 'Todos os Homens' de 1 Timóteo 2:4?



Me fizeram uma pergunta no Facebook, sobre a passagem de 1 Tm 2:4, sobre quem Paulo se refere quando diz "todos os homens". Eis minha resposta a seguir:

R: Para uma melhor compreensão, precisamos ler desde o versículo 1:

"Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade." (1 Timóteo 2:1-4)

Paulo está falando sobre a necessidade de orar por "todos os homens", e é claro que quando ele diz isso, ele não quer dizer literalmente cada pessoa que há na terra, pois você morreria e não conseguiria orar por mais de 7 bilhões de pessoas que há na terra. Mas então, quem são estes "todos os homens?". O texto diz: "pelos reis, e por todos os que estão em eminência", ou seja, por todas as classes de pessoas, até mesmo aqueles que são autoridades governamentais.

Posto isto, Paulo diz que Deus "quer que todos os homens se salvos", todos os homens de todas as classes, e não todos os homens, sem exceção, pois sabemos pelas Escrituras que o Senhor escolheu um número de pessoas para a salvação, e que nem todos serão salvos.

O versículo 6 também nos mostra algo interessante: "O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.". Veja que o texto fala daqueles que Cristo resgatou, ou seja, não pode se referir a cada indivíduo que há na terra.

O amado irmão Spurgeon refuta esta interpretação, mesmo sendo ele calvinista, todavia, neste ponto ele errou em dizer que o "todos" se refere a todos, sem exceção.

Pense numa coisa: se o "todos os homens" do versículo 4, se refere a todos, sem exceção, o "todos os homens" do versículo 1 também deveria se referir a todos, sem exceção. Mas pense comigo: você conseguiria orar por todas as pessoas que existem no mundo hoje? Temos aproximadamente 7 bilhões de pessoas no mundo, se você gastasse 30 segundos em oração, por cada pessoa, você levaria 6.752 anos. Se gastasse 1 segundo, você levaria 225 anos para orar por todos, isso sem falar que você deveria orar sem interrupção, ou seja, isto é impossível!

Então, olhando o contexto, creio que o "todos os homens" se refere a todos os homens sem distinção de classes, e não sem exceção.

Abraços, Deus te abençoe.

domingo, agosto 16, 2015

Romanos 13.1-7 Impede Que Cristãos Protestem Contra o Governo?




Romanos 13.1-7 é um texto bíblico usado e abusado para justificar o silêncio e a omissão por parte dos cristãos, mesmo diante de governos autoritários ou totalitários.
Mas deve-se levar em conta os seguintes pontos:
1. Na Epístola aos Romanos o poder pertence exclusivamente a Deus. As “autoridades do governo” nunca são chamadas de “poder” ou “poderes”, como se convencionou chamar na linguagem política contemporânea. Na Epístola, o único que tem poder é Deus, que vem a nós através do evangelho, que é Jesus Cristo, o único Senhor, e Senhor de todos.
2. A “autoridade” em Romanos 13.1-7 pode e deve ser interpretada como a estrutura de governo (no caso romano, o senado, que detinha as prerrogativas legislativa, judicial e eleitoral, e o imperador, o supremo comandante militar – pelo menos tecnicamente dois poderes co-iguais de governo, no século I d.C.). O apóstolo, em momento algum, personaliza a autoridade, nomeando-a: César, Augusto, etc.
3. Romanos 13.1-7 trata da autoridade legítima ideal e a define: esta é serva (a palavra usada é “diakonos”, que pode ser traduzida como ministro, administrador ou empregado) de Deus para o bem dos cidadãos; recompensa o bem que é feito pelos que estão sob o seu governo; e detém o poder da espada, sendo agente de punição contra quem pratica o mal – e por cumprir tais prerrogativas ordenadas por Deus, os cristãos se sujeitam “por causa da consciência” a tal autoridade e pagam impostos.
4. Quando as autoridades deixam de servir aos cidadãos, louvar o bem e punir o mal, DEIXAM DE SER AUTORIDADE LEGÍTIMA.
5. Logo, não são mais ordenadas por Deus. Se tornam a besta que surge do mar (Ap 13.1-10), tentando ser o idolátrico “Estado total”, que exige culto e submissão. E devem ser resistidas de toda forma legítima pelos cristãos, inclusive por meio da desobediência (como os apóstolos e cristãos mártires fizeram a partir do último quarto do século I d.C.).
Portanto, Romanos 13.1-7 não deve ser usado para justificar passividade ou omissão diante daqueles que traíram seu chamado e perderam a legitimidade de fazer parte da autoridade e ordem que vem de Deus.
Em países em que estes pontos foram compreendidos nunca houve ditaduras: Suíça, Holanda, Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.

Fonte: Página do Autor no Facebook.

terça-feira, agosto 04, 2015

O Salvo Que Peca no Último Instante, e Não Se Conserta e Morre, Perde a Salvação?





Uma pessoa, por in-box no Facebook, pediu explicação sobre isso, pois ela tinha uma visão incorreta sobre este assunto, e ela até achou que eu estava pregando heresias ontem ao tratar deste tema. Abaixo, a conversa por in-box, pode ser que ajude alguns. Chamarei a pessoa de Maria, para preservar sua identidade.

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Roberto: Maria, esse ensino de que uma pessoa perde a salvação sempre que peca, não é um ensino das Escrituras. Mas preste bem atenção no que eu estou dizendo, para não interpretar errado minhas palavras.

Todo o cristão, quando é salvo, ele é regenerado, é nascido de novo (João 3:3; Tito 3:5; Ezequiel 36:25-27), sendo assim, todo o cristão, tendo o coração regenerado, terá desejo por santidade, pois Deus nos elegeu desde antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis (Efésios 1:4). Portanto, uma pessoa salva com certeza estará sendo moldada ao caráter de Cristo, dia após dia, pois "aquele que em vós começou a boa obra, aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo" (Filipenses 1:6).

Aqueles quem Jesus salva, Ele promete guardar esta pessoa até o fim (João 10:27-28), Ele assegura, dá garantia de que suas ovelhas jamais perecerão, e que ninguém as arrebatará de suas mãos.

Há uma doutrina nas Escrituras que se chama doutrina da justificação. Ser justificado por Deus é ser declarado justo por meio da fé em Cristo, e esta justiça, é a justiça de Cristo sendo imputada ao pecador. É o que Paulo fala na carta aos Romanos: "Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;" (Romanos 5:1)

Ser justificado, é o contrário de ser condenado. Uma vez que um pecador foi justificado por Deus, através da fé em Jesus Cristo, este pecador foi absolvido da condenação do pecado. Se você ler todo o capítulo de Romanos 8, verá que Paulo está dizendo sobre isso....

Deus assegurou, em várias passagens bíblicas, que seus filhos jamais se perderão. Pois uma vez que Deus adotou um pecador como seu filho, através de Jesus, o pecador não deixará mais de ser seu filho. Veja textos que provam que um salvo não perde a salvação....

"E eles serão o meu povo, e eu lhes serei o seu Deus; e lhes darei um mesmo coração, e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem, e o bem de seus filhos, depois deles. E farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim." (Jeremias 32:38-40)

"Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis." (Ezequiel 36:25-27)

"Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Filipenses 1:6)

"As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão." (João 10:27,28)

"Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." (Romanos 8:38,39)

"porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia." (2 Timóteo 1:12)

"Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória" (Judas 1:24)

Até ai provei com textos que, Deus promete guardar seus filhos até o fim! Mesmo que seus filhos pecarem (que vão pecar pois são pecadores), eles não deixarão de ser filhos. Isto não significa que estes filhos viverão uma vida atolada no pecado, mas que, mesmo sendo filhos, eles ainda possuem uma natureza pecaminosa, e que, infelizmente, caem ainda em muitas tentações e pecados, PORÉM, o nascido de Deus sempre vai reconhecer seus pecados e voltar-se a Deus em arrependimento... Lembra de Davi? Adulterou e matou, mas ainda sim era chamado segundo o coração de Deus. E por que? Porque ele era filho de Deus, apesar dos erros, mas Davi não continuou praticando estes pecados, ele se arrependeu dos pecados, confessou os pecados a Deus e prosseguiu. Nós vemos isso em Salmos 32 e Salmos 51.

Como a salvação não é adquirida e conquistada por esforços, mas somente pela graça de Deus, como diz Paulo: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. NÃO VEM DE OBRAS, para que ninguém se glorie;" (Efésios 2:8,9), então não é o que o salvo faz ou deixa de fazer que garantirá sua salvação, mas sim o que Cristo fez por ele na cruz.

E pelo fato de os salvos ainda pecarem, infelizmente, acontece que, durante o dia, passam muitos pensamentos pecaminosos pela nossa cabeça. Você pode dizer que não, mas a Bíblia diz que qualquer coisa que fizermos, se não for para glorificar a Deus, é pecado! (1 Co 10:31). Sendo assim, quantos pecados nós cometemos durante o dia, começando por pensamentos?

Agora eu pergunto: se a salvação depende de nós não pecarmos, quem é que se salvará? Ninguém!

Pois foi Cristo quem pagou por TODOS os pecados de TODOS os eleitos de Deus. Mas não quero dizer com isso que o salvo deva viver do jeito que quer por causa disso, pois ele NÃO VAI viver do jeito que quer, pois diz a Bíblia que: "o nascido de Deus não vive habitualmente no pecado" (1 Jo 3:9), e por que? Porque o Senhor regenerou seu coração, ele agora é uma nova criatura (2 Co 5:17), não há mais prazer no pecado.

Os salvos pedem perdão ao Senhor, não para ADQUIRIR salvação, mas para ter paz com o Senhor, pois o pecado quebra esta paz com o Senhor, mas quebrar a paz não significa perder a salvação.

Então, o confessar o pecado diante de Deus é para manter um relacionamento profundo com o Senhor, é manter paz com o nosso Criador, e sermos moldados ao caráter de Cristo, dia após dia.

Nós nos santificamos porque SOMOS salvos, e não para SERMOS salvos, pois nenhum esforço humano pode lhe garantir a salvação.

É por isso que Paulo diz isso: "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei." (Romanos 3:28)

Pois nossos esforços não podem nos salvar, somente Cristo salva, pois Ele é o caminho, e a verdade, e a vida (João 14:6). Porém, quando o pecador recebe o Espírito Santo ao crer em Jesus, este maravilhoso Espírito Santo é o santificador do crente, é Ele quem santifica o crente, quem capacita o crente a viver em santidade, a viver uma vida abundante em comunhão com o Senhor....

Agora pretendo responder a pergunta da moça, baseado em tudo isso....

Sendo assim, tendo as Escrituras prometido que, aqueles a quem o Senhor regenerou, salvou, lavou, justificou e santificou, o próprio Senhor guardará seus filhos até o fim. Todavia, o salvo não está livre de pecados. Infelizmente ainda estamos num corpo que possui natureza pecaminosa e, por causa disso, ainda temos muitos pensamentos impuros na nossa mente, e muitas práticas que não condizem com as Escrituras, mas estamos batalhando em Cristo para nos arrependermos de cada pecado, abandonando-os.

Portanto, mesmo que o verdadeiro cristão vier a cometer um pecado (que é inevitável durante um dia todo), e ele vier a falecer, e não der tempo de confessar o pecado, ele não perdeu a salvação, pois confissão do pecado não é para ganhar a salvação, mas sim para ter paz com Deus. Mas isto não significa que ele se perdeu só porque no último minuto ele não confessou pecado, pois a salvação dele foi garantida por Cristo na cruz, e não por ele mesmo.

Entendeu até ai, tem alguma dúvida?

Maria: Posso fazer uma pergunta ? Como sei que sou um eleito ?

Roberto: As evidências de um eleito, estão espalhadas por textos nas Escrituras. Uma carta foi escrita especificamente para saber a evidência de um eleito, esta carta é 1 João.

Outra passagem, para fazer uma comparação, é a passagem das bem-aventuranças, em Mateus 5. Há ali, ensinos de Cristo para mostrar quem são os bem-aventurados, ou seja, os que foram alcançados pela graça de Deus.

Outro texto é Gálatas 5:22, que fala sobre o fruto do Espírito, as evidências de uma pessoa que nasceu de Deus.

Sobre suas questões acima, eu penso que um cristão verdadeiro pode sim ter fases e momentos de fraquezas e desânimos, ora, até mesmo homens de Deus na Bíblia tiveram estas fraquezas e desânimos. Porém, o nascido de Deus não permanecerá assim por muito tempo, pois como ele é selado pelo Espírito Santo, ele sempre será convencido da situação dele, e ele confessará seu pecado e se voltará a Deus.

O nascido de Deus, quer sempre agradar a Deus, viver em santidade. Essa é uma marca dos filhos de Deus.

Maria: Agora com relação aquela primeira pergunta como explicar ? Com relação ao que você falou que se morrermos sem dá tempo de confessar nossos pecados tipo de pensamentos por exemplo, isso procede mesmo assim? Por exemplo Jesus nos falou que se em pensamento eu desejar uma mulher já cometi adultério com ela, certo ? Dai eu pergunto como fica essa situação diante de Deus se a bíblia fala que os adúlteros não herdarão o reino do céu ? E agora como fica a situação desse eleito que morreu antes de confessar esse pecado mesmo em pensamento ? Nesse caso baseado no que você falou acho que Deus daria tipo uma chance, um tempo de se arrepender e confessar esses tais pensamentos ou não seria assim ?

Roberto: É verdade, Cristo disse que o pecado começa no coração (Mt 5:28). Porém, quando a Bíblia fala que adúlteros não herdarão o reino de Deus, está falando de pessoas que não foram salvas, e que vive uma vida em adultério. É diferente o ato do adultério do pensamento de adultério. Entenda bem, não estou justificando pecados, só estou falando da diferença entre eles. Um cristão verdadeiro não está livre da cobiça, infelizmente. Ele precisa lutar contra isso porque é pecado e desagrada a Deus. Porém, ele não está livre de ter pensamentos pecaminosos. Então, mesmo que, durante o dia ele tenha estes pensamentos, e não confesse seus pecados, ele não volta a ser condenado, porque como eu disse, Cristo pagou na cruz por todos os pecados passados, presentes e futuros dos eleitos. Então, mesmo que um salvo cometa estes pecados por pensamentos, e não dê tempo de ele se arrepender e confessar o pecado, ele continua salvo, pois a salvação não é conquistada pelo salvo, mas por Cristo. Entendeu? Isto estamos falando de pessoas que não vivem habitualmente no pecado, mas que, infelizmente, ainda pecam, por causa de sua natureza pecaminosa. Isto não é uma brecha para a pessoa sair pecando, pois se a pessoa pensar assim, que pode sair pecando, isto vai mostrar que, na verdade, ela nunca nasceu de novo, pois ela não tem prazer no pecado. Entendeu?

Maria: Agora sim. Entendi perfeitamente

Fonte: Perfil do Autor no Facebook.

Cristianismo e UFC Combinam?




Por Thiago Oliveira​

As lutas do UFC ganharam muitos admiradores ao redor do mundo. No Brasil não é diferente. Muitos veneram esse evento esportivo e o colocam na lista dos seus preferidos, torcendo pelos lutadores tais como torcem por times de futebol. Este é o principal evento de uma modalidade chamada MMA, sigla em inglês para “artes marciais mistas”, já que os componentes misturam elementos diversificados de mais de uma arte marcial.

O UFC é uma fábrica de fazer dinheiro. Uma marca mesmo. Lucra pela imensa popularidade que arregimentou. Popularidade esta que também alcançou o segmento evangélico. Há na modalidade os “atletas de Cristo”, o Victor Belford, um dos maiores nomes do MMA mundial representa a categoria dos evangélicos que estão nesta modalidade. Existem até igrejas que tem projetos e promovem lutas de MMA. Todavia, existem muitas críticas sobre a validade desse esporte. Daí a pergunta provocativa que intitula este breve texto: Cristianismo e UFC combinam?

Primeiramente, gostaria de salientar que essa não será uma discussão pautada pelo gosto pessoal. Sabemos que muitas coisas são proibidas por conta da preferência do líder. Exemplo: Um pastor que não gosta de futebol proíbe os membros de sua igreja de jogarem. Logicamente, isto é um absurdo. No entanto, acontece o inverso em muitos casos. Determinada coisa é considerada lícita porque o pastor gosta daquilo. Assim sendo, sua preferência passa por cima de outros critérios, dentre eles o crivo da Escritura, nossa regra de fé e prática. Segundamente, não estou aqui falando acerca das artes marciais como um todo. A maioria delas tem elementos espirituais que não convém aos cristãos, mas, é possível praticá-las sem o teor místico. Boa parte delas tem uma filosofia não-violenta e compartilham sentimentos nobres com relação ao ser humano.

A dificuldade com o MMA em si, e com o UFC é a espetacularização da violência. Falam que é esporte, que ali há dois atletas que se preparam com muito afinco e disciplina, que estão em pé de igualdade e cônscios do que devem fazer ali no octógono (para os não familiarizados, octógono é o palco das lutas). Da disciplina e da consciência dos lutadores não discordo. Mas, isso não responde a questão da violência. Sobre ela, em Provérbios 13:2 lemos “Do fruto de sua boca o homem desfruta coisas boas, mas o que os infiéis desejam é violência”.

A violência está no cerne do UFC. Os competidores provocam uns aos outros com palavras beligerantes. A tradicional encarada é ato violento e intimidador e as lutas, são banhadas de sangue e muitos saem completamente desfigurados do combate. Existem atletas que até postam fotos nas redes sociais de como ficam após os embates. Este é o ponto chave para mim, pois a violência não combina nem com a filosofia milenar das artes marciais, nem com a ética do Reino estabelecida por Cristo. Assistindo um reality show com lutadores que desejavam assinar um contrato para lutar no UFC, vi diversas vezes os concorrentes dizendo que resolveriam as tensões da convivência na porrada. Não ouve nenhuma agressão física durante o programa, mas ameaças para que isso acontecesse não foram poucas.

O Grupo de Teologia e Educação de Lausanne propôs no Relatório de Willowbank (Bermudas, 1978) que uma forma de julgar a cultura era vendo se ela dignifica ou diminui a vida humana. Acredito ser esse um bom critério, uma vez que o Cristianismo histórico estabelece que o homem, apesar da sua natureza caída, ainda detém a imagem de Deus, pois nela foi criado. Portanto, toda a cultura é ambígua. Segundo o parágrafo 10 do Pacto de Lausanne: “Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca”. Logo,o esporte como sendo um elemento cultural, traz muitos benefícios o ser humano, o que não quer dizer que seja todo o tipo de atividade esportiva. Se por esporte eu entendo que deva socar um semelhante e desfigura-lo e tirar-lhe o sangue, eu estou indo contra ao que diz Gênesis 9:6 “Quem derramar sangue do homem pelo homem seu sangue será derramado; porque à imagem de Deus foi o homem criado”.

Ah, mas o texto de Gênesis fala sobre o homicídio. Sim, mas o princípio é mais abrangente. De maneira semelhante trabalha o Catecismo Maior de Westminster sobre a respeito do 6º mandamento (pergunta 136):

Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento?

Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça pública, guerra legítima, ou defesa necessária; a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém.
Gn 9:6; Ex 1:14;20:9,10;21:18-36;22:2; Nm 35:16,31,33; Dt 20.1-20; Is 3:15; Pv 10:12;12:18;14:30;15:1;28:17; Mt 5:22;6:31,34;25:42,43; Lc 21:34; At 16:28; Rm 12:19; Gl 5:;15; Ef 4:31; Hb 11.32-34; I Pe 4:3,4; I Jo 3:15; Tg 2:5,16;4:1.

Destaco as palavras “espancamentos” e “ferimentos”, pois são extremamente comuns nas lutas do UFC. Mesmo havendo um árbitro que não permite que a luta ocorra até a morte, os golpes a longo prazo podem acarretar problemas sérios de sáude, principalemnete quando os golpes são deferidos na cabeça, sem nenhum equipamento de proteção. Outro catecismo reformado, o de Heidelberg, afirma que colocar-se em perigo é quebrar o sexto mandamento (resposta a pergunta 105). E diz mais! Na pergunta 107, indaga-se se é suficiente apenas não matar. A resposta do catecismo vai dizer que isso não é suficiente, e para não quebrar o mandamento “devemos evitar seu prejuízo, tanto quanto possível , e fazer bem até aos nossos inimigos”.

Em suas Confissões (VI, 8), Agostinho fala de um amigo – Alípio – que recusava-se a ver a luta entre os gladiadores, mas, em Roma, seus amigos o levaram a um anfiteatro. O antes relutante, quando viu o gladiador no chão e o sangue deste derramado, foi tomado por uma paixão infame e virou mais um na multidão que não só aprovava, como também vibrava com toda aquela carnificina. Segungo Agostinho, aquele homem havia enlouquecido e perdido seu senso crítico. Ora, talvez seja exatamente o mesmo fenômeno que tem absorvido os cristãos de nossa época que vibram com o UFC e promovem suas lutas fazendo com que outros também gostem.

Sei que muitos vão objetar dizendo que existe violência em esportes como o futebol. Mas, temos que observar que o objetivo do futebol não é a violência, diferente do MMA. No futebol, a violência quando ocorre dentro do campo é punida. Todo esporte de contato pode acarretar lesões. A diferença é quando as lesões ocorrem por choques acidentais e não por golpes endereçados ao corpo do oponente como meta para se obter a vitória. Como disse anteriormente, não se trata de preferência e ponto. Tanto a Escritura, quanto os documentos da tradição reformada não dão margem para apreciarmos determinado esporte ou entretenimento. Por isso, todos aqueles que são fãs deveriam mortificar esse gosto pessoal a fim de glorificar a Deus e viverem segundo os seus padrões.

Soli Deo Gloria

Fonte: Perfil do Autor no Facebook.

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